A Operação, batizada de Carbono Oculto, é considerada a maior da história do Brasil contra o crime organizado. Ela é resultado de uma força-tarefa do Ministério Público-SP, Ministério Público Federal e Polícias Federal, Civil e Militar.
A nota da Unica foi publicada em conjunto com a Bioenergia Brasil, o Instituto Combustível Legal (ICL), o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (SINDICOM).
“O combate às práticas ilícitas é fundamental para proteger consumidores, garantir a arrecadação de tributos, fortalecer a confiança dos investidores e assegurar um ambiente de negócios transparente, que valorize empresas idôneas e inovadoras”, disseram as entidades, em nota.
“Justamente por isso, a operação, que dá continuidade a outras medidas já executadas pelo governo paulista — como a responsabilidade solidária dos postos de combustíveis — garante a ordem e a segurança necessárias aos cidadãos de bem”.
Produtores de cana
O CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), José Guilherme Nogueira, disse ao g1 que o setor recebeu a notícia com surpresa e que os produtores não tinham conhecimento sobre o esquema.
“Nós sabíamos que tinham investigações, principalmente por causa dos incêndios, mas restou bastante essa dúvida”, afirmou.
“[A Orplana] manifesta total apoio às autoridades responsáveis [pela megaoperação]. A entidade e seus produtores […] reforçam o compromisso permanente com a ética, a legalidade e a transparência, valores indispensáveis para a credibilidade do setor sucroenergético e sua relevância para a economia nacional”, disse a entidade, em nota.
PCC obrigava empresários a vender fazendas
Empresários, agricultores, colaboradores ligados ao agro e à cadeia produtiva do álcool fizeram chegar aos promotores uma série de situações suspeitas envolvendo a compra de usinas, de fazendas de cultivo de cana, de postos de combustíveis e até mesmo de transportadoras ligadas ao setor sucroalcooleiro.
Gente séria do ramo endereçou situações gravíssimas de que fazendeiros, donos de usinas e de postos estavam sendo coagidos a venderem suas propriedades para os grupos criminosos. Inclusive, havia até suspeitas de incêndios criminosos em canaviais, empresas e propriedades rurais como forma de intimidação.
Ainda de acordo com relatos que chegaram ao MP, os negócios eram geralmente fechados à vista em dinheiro vivo com valores subfaturados e ameaças de morte caso o “vendedor” desistisse ou abrisse o bico para denunciar a coação.
Vários empresários e comerciantes sérios ficaram extremamente preocupados, pois sentiram que o crime organizado, por meio do PCC e afiliados, estava, de fato, avançando com força sobre o setor — com a tática de dominação de territórios.
O aprofundamento das investigações do MP estadual resultou na necessidade de colaboração do Ministério Público Federal, da Receita Federal e da Polícia Federal.
Os crimes apurados envolviam, entre outros, a sonegação de centenas de milhões de reais em tributos federais, lavagem de dinheiro no sistema financeiro nacional além da adulteração de combustíveis por meio de importações fraudulentas de metanol.
Assim, inquéritos também foram abertos em âmbito federal e, em trabalho conjunto no estilo força tarefa, o resultado é a deflagração da operação desta quinta-feira.
A Justiça Federal concedeu para a PF as ordens de prisão de vários alvos e, à estadual, dezenas de mandados de busca e apreensão de suspeitos de terem participação nos esquemas criminosos envolvendo o PCC — desde o cultivo no campo até a venda de álcool para o consumidor final.
Infográfico: Como funcionava o esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis — Foto: Arte/g1
Indústria da cana-de-açúcar em Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo