Não há provas científicas que sustentem que jejum de 72 hores auxilie na reconstituição de órgãos
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Circula nas redes sociais uma publicação dizendo que o jejum de 72 horas faz o corpo iniciar um processo de “limpeza” que elimina toxinas, reduz inflamações, recicla células e fortalece o sistema imunológico. É #FAKE.
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🛑 O que diz a publicação mentirosa?
Publicado em 4 de agosto de 2025 no Instagram, o post tem mais de 100 mil curtidas e exibe a seguinte mensagem: “Em apenas 3 dias de jejum, seu corpo ativa o ‘médico interior’ que elimina inflamações e toxinas, reduzindo inflamações e regenerando órgãos”.
A legenda diz: “Durante um jejum profundo de 72 horas, seu corpo entra em um estado chamado autofagia, no qual ele literalmente ‘limpa a casa’: elimina toxinas, reduz inflamações, recicla células danificadas e fortalece o sistema imunológico. É um processo natural, silencioso, mas incrivelmente poderoso, reconhecido por cientistas e o vencedor até de Prêmio Nobel”.
⚠️ Por que isso é falso?
Ao Fato ou Fake, José Rodrigo Pauli, professor de ciências do esporte e da pós-graduação em ciências da nutrição e do esporte e metabolismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desmente as afirmações do post: “A autofagia (‘o médico interior’) é um processo induzido pelo jejum e essencial para o equilíbrio celular. Mas é mentira que ele precise de 72 horas para ser ativado. Também é mentiroso falar que a falta de alimentação por três dias pode gerar benefícios à saúde”.
E complementa: “Em um quadro de estresse como esse, a autofagia poderá ser, na verdade, prejudicial à saúde, levando a um pior funcionamento do sistema imunológico e à atrofia dos órgãos. Além disso, é sabido que, como três dias de jejum, o corpo entra em fase de desnutrição, e ocorrem alterações metabólicas graves, com risco de desidratação, hipoglicemia, e problemas como tontura e dor de cabeça. Em crianças, isso pode ter sérias implicações ao crescimento e desenvolvimento corporal”.
Pauli explica que a autofagia ocorre dentro das células e é responsável pela degradação e reutilização de uma diversidade de biomoléculas (proteínas, ácidos nucleicos, carboidratos e lipídios).
Esse processo é induzido pela abstinência de alimento (jejum) ou em resposta à atividade física, o que permite que a célula recicle componentes danificados, para sobreviver, funcionar adequadamente e se renovar.
Porém, o especialista deixa claro que não é necessário ficar 72 horas sem comida. As evidências científicas de benefícios do jejum à saúde humana estão restritas a períodos de abstinência alimentar mais curtos, que variam entre 16 e 24 horas por dia, por exemplo. Ou seja, um cenário muito diferente daquele defendido pela publicação viral.
“O melhor caminho é buscar opções em que haja evidências mais fortemente respaldadas pela ciência e pela medicina, como o jejum de 16-24h, no qual a autofagia ajuda a prevenir o acúmulo de componentes nocivos nas células, impede a formação de proteínas danificadas e danos as mitocôndrias, que estão ligadas a doenças neurodegenerativas e ao envelhecimento celular”, diz ele. Caso seja adotado como estratégia, o jejum deve ser acompanhado por nutrólogo ou nutricionista.
Nem mesmo as práticas mais comuns de jejum intermitente têm recomendação unânime da comunidade científica. Pesquisadores críticos alegam que o curto tempo de acompanhamento da maioria dos estudos (de três a seis meses) não permite saber se a perda de peso é realmente efetiva, ou maior do que aquela conquistada por restrição calórica.
“Apesar das evidências crescentes que apoiam o uso do jejum intermitente, ainda não fazem parte das diretrizes dietéticas e não é amplamente recomendado, principalmente quando muito prolongado”, adverte o professor.
Pauli defende que, embora seja uma ferramenta promissora, o jejum intermitente ainda precisa ser mais bem investigado para fundamentar recomendações seguras e individualizadas, seja para saúde ou para o desempenho físico.
Por fim, o especialista desmente a alegação final do post (“essa estratégia é reconhecida por cientistas e até mesmo o vencedor do Prêmio Nobel”), ao dizer que o estudo do vencedor do Nobel de medicina não pode ser aplicado ao organismo humano.
“O estudo do japonês Yoshinori Ohsumi, o biólogo celular que ganhou o Nobel de medicina e fisiologia em 2016, trouxe à tona discussões sobre os possíveis benefícios da autofagia e do jejum. Mas, preste bem atenção: embora de grande relevância, seu estudo foi em leveduras (fungos).”
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