O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (25) que o Brasil e a Nigéria são dois países que apostam no livre comércio em um momento em que ressurgem no mundo movimentos de “protecionismo e unilateralismo”.
O petista deu as declarações após se reunir, no Palácio do Planalto, com o presidente da Nigéria, Bola Ahmed Tinubu, que faz uma visita de Estado ao Brasil.
“Neste momento em que ressurgem o protecionismo e o unilateralismo, Nigéria e Brasil reafirmam aposta no livre comércio e na integração produtiva. Seguimos empenhados na construção de um mundo de paz e livre de imposições hegemônicas”, afirmou Lula.
A agenda com Tinubu faz parte da estratégia de Lula de retomar a aproximação com países africanos, aposta que ganhou importância diante do tarifaço para entrada de produtos brasileiros nos EUA.
O Brasil foi sobretaxado em 50% pelo presidente americano, Donald Trump, enquanto a Nigéria está com a tarifa em 15%. Lula não mencionou Trump no discurso que fez à imprensa no Palácio do Planalto.
No seu pronunciamento, Tinubu também afirmou que é possível ampliar a relação entre Brasil e Nigéria.
Ele citou como exemplo ações de transferência de tecnologia e parcerias na economia e na produção de energia e medicamentos para beneficiar os dois países.
“Somente juntos poderemos desenvolver nossas economias para auxiliar na nossa soberania”, disse.
Tinubu afirmou que o país tem reservas de gás natural e afirmou que deseja ter a Petrobras como parceria o mais rápido possível. “O Brasil e a Nigéria estão aqui para crescer juntos”, reforçou.
Já Lula citou agricultura, pecuária, petróleo e gás, fertilizantes, aeronaves e maquinário como exemplos de áreas que “representam avenidas amplas de cooperação”.
O petista também afirmou considerar que a Nigéria “possui todas as credenciais para se tornar membro pleno do G20”.
O presidente ainda defendeu a Organização Mundial do Comércio (OMC) dirigida pela economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala.
O Brasil solicitou recentemente à OMC consultas ao governo americano sobre o tarifaço.
Lula e presidente da Nigéria em evento no Planalto.
Ricardo Stuckert/ Presidência da República
💵A Nigéria é o país com maior economia e população do continente africano. Em 2024, o comércio com o Brasil somou US$ 2 bilhões. O governo brasileiro acredita que é possível ampliar essa corrente comercial.
No ano passado, as exportações brasileiras para a Nigéria alcançaram US$ 978,5 milhões com envio de produtos como açúcares e melaços (74%), álcoois e derivados (5,7%) e outros itens da indústria de transformação e agrícola.
Já as importações do Brasil da Nigéria bateram US$ 1,1 bilhão, incluindo adubos e fertilizantes (48%), óleos combustíveis e petróleo bruto (48%), gás natural (2,3%) e outros produtos da indústria de transformação.
Lula citou que o intercâmbio comercial dos países caiu de US$ 10 bilhões ao ano em 2014 para US$ 2 bilhões em 2024. O presidente creditou a redução à postura de governos anteriores ao seu.
“Não foi por acaso. Nos últimos governos, o Brasil se distanciou da África. Duas das maiores economias da América Latina e da África devem ter um intercâmbio muito maior”, afirmou.
Aproximação com a África
Lula discute ampliação do intercâmbio comercial com o presidente da Nigéria, Bola Ahmed Tinubu, na Cúpula do Brics
Ricardo Stuckert / PR
Lula e Tinubu se reuniram em julho, no Rio de Janeiro, à margem da cúpula do Brics. A Nigéria é um dos dez países parceiros do grupo, alvo de críticas do governo dos EUA.
Na ocasião, os dois presidentes destacaram a intenção de ampliar os negócios entre os países. Tinubo, à época, demostrou interesse em estabelecer cooperação para aumentar a produtividade do setor agropecuário e citou a Embrapa como referência em pesquisa e inovação agrícola.
Também em julho, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, liderou uma missão empresarial à Nigéria, a fim de captar parcerias econômicas.
Alckmin, que coordena o comitê de resposta ao tarifaço, estará novamente com Tinubu na tarde desta segunda, no encerramento de um fórum empresarial Brasil-Nigéria, organizado em parceria pelos governos brasileiro e nigeriano e o Sebrae.
Nesta segunda-feira, Lula também mencionou a população africana que foi escravizada no Brasil por mais de três séculos.
O presidente disse não ser possível mensurar em dinheiro a forma de compensar esse período. Tal pagamento deve “ser mensurado em solidariedade, em alinhamento politico econômico e cultural”.
COP 30 e crime organizado
Lula e Tinubu conversaram sobre combate a crimes internacionais e a necessidade de reforçar ações para preservar o meio ambiente.
“Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional. A criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes, exigindo ações multilaterais urgentes e coordenadas”, afirmou Lula.
O presidente brasileiro reforçou o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 e o convite para que países africanos compareçam à COP 30, em novembro, em Belém.
“Os instrumentos internacionais hoje existentes são insuficientes para recompensar de forma eficaz a proteção das florestas, sua biodiversidade e os povos que vivem, cuidam e dependem desses biomas”, concluiu.
Busca por novos mercados
Lula articula resposta conjunta com Brics ao tarifaço
Desde 6 de agosto, uma série de produtos brasileiros, como carne, café e máquinas, pagam 50% de sobretaxa para entrar nos EUA.
O Planalto considera a negociação com os EUA travada, já que Trump exige o término dos processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe.
Para socorrer as empresas afetadas, o governo brasileiro definiu uma série de medidas, como linhas de crédito e adiamento do pagamento de impostos. Em outra frente, busca novos mercados pelo mundo.
Nessa estratégia, Lula conversou por telefone com os presidentes da China, Xi Jinping, e da França, Emmanuel Macron, além do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Lula também planeja uma viagem à Indonésia e Malásia em outubro e tem recebido chefes de Estado em Brasília.
Além de Tinubo, esteve com o presidente do Equador, Daniel Noboa, e terá reunião na quinta-feira (8) com o presidente do Panamá, José Raúl Molino.
As visitas começaram a ser negociadas antes do tarifaço, mas já em um cenário que antevia a guerra comercial iniciada pelo governo norte-americano.
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