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A difícil relação entre segurados e peritos do INSS: até onde vai a desconfiança?

por Drª. Ingrid Dialhane

→ Quando falamos em perícia médica no INSS, logo vêm à mente duas imagens muito diferentes. De um lado, o segurado que chega fragilizado, muitas vezes doente, cansado da espera e na expectativa de um benefício que pode garantir sua sobrevivência. Do outro, o perito médico que carrega a responsabilidade de avaliar milhares de pessoas por mês, sob pressão para evitar fraudes e reduzir gastos públicos.

Esse encontro, que deveria ser um espaço técnico e de acolhimento, frequentemente se transforma em um campo de tensão e desconfiança.

O lado dos segurados

Quem advoga na área previdenciária, como eu, ouve quase diariamente relatos de clientes que se sentiram maltratados, incompreendidos e até ofendidos durante a perícia. Muitos saem com a sensação de que não foram ouvidos, de que suas dores foram minimizadas e de que todo o processo não passou de uma formalidade para negar o benefício.
Para o segurado, que já enfrenta doenças, limitações e dificuldades financeiras, a experiência pode ser traumática.

O lado dos peritos

Os médicos peritos, por sua vez, também trazem queixas. Muitos afirmam que enfrentam diariamente tentativas de fraude, segurados que “fingem” sintomas ou se recusam a colaborar, e sentem que estão sob constante desconfiança da sociedade.

Para eles, a pressão também é enorme: decidir em poucos minutos o destino de um benefício que pode durar anos e movimentar valores significativos para os cofres públicos.

A proposta: câmeras nas perícias

Diante desse cenário, surge uma ideia polêmica, mas que merece ser debatida: a instalação de câmeras para registrar a apresentação do laudo ou até mesmo toda a perícia.

A medida teria três grandes objetivos:

  1. Proteger o segurado, garantindo que não seja vítima de maus-tratos ou falta de respeito.
  2. Resguardar o perito, afastando acusações injustas.
  3. Dar mais transparência ao processo, aumentando a confiança da sociedade no INSS.

Claro, isso abre discussões jurídicas e éticas: como ficaria a proteção de dados sensíveis? A gravação não violaria a intimidade do paciente? Onde e por quanto tempo os vídeos seriam armazenados?
São questões legítimas, mas que não podem impedir a reflexão.

Por que falar disso agora?

Vivemos em um tempo em que transparência é palavra de ordem. Audiências judiciais já são gravadas, atendimentos públicos têm registro, e até câmeras em uniformes de policiais passaram a ser realidade em alguns estados brasileiros.
Por que não pensar em algo semelhante para as perícias do INSS, que decidem o futuro de milhões de pessoas todos os anos?

Conclusão

Não se trata apenas de tecnologia, mas de respeito e confiança. Segurados e peritos não precisam ser vistos como inimigos: ambos buscam que a verdade prevaleça.

A proposta de câmeras nas perícias pode parecer ousada hoje, mas talvez seja justamente esse passo corajoso que falta para aproximar cidadão e instituição. Afinal, se a transparência já chegou às audiências judiciais, às câmeras de segurança em repartições públicas e até as fardas de policiais, por que não às salas do INSS?

Pode ser que, no futuro, olhemos para trás e nos surpreendamos com o fato de que decisões tão importantes para a vida das pessoas eram tomadas sem qualquer registro. Talvez a pergunta que fique seja: quanto vale a confiança em um sistema que deveria existir para proteger?
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Por: Dra. Ingrid Dialhane – Advogada Previdenciária

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