“O Brasil tem déficit com os EUA. Não é um déficit monumental, fica em R$ 1,2 bilhão nos últimos 12 meses, e normalmente não entraria naqueles [países] que, na visão do Trump causam ‘prejuízo gigantesco’”, disse Schwartsman em entrevista à GloboNews.
Segundo o economista, Trump considera que “déficit é igual a prejuízo”, o que “não poderia ser mais longe da verdade”.
“Mas, da maneira como ele entende, não teria nenhum motivo econômico, mesmo nessa interpretação equivocada, de alvejar o país. Fica muito claro que essa medida foi tomada por razões políticas – em particular, ele mencionou recentemente a iminente condenação do Bolsonaro”, disse ele.
“O fato é que tem um viés político na decisão.”
Trump anuncia taxa de 50% ao Brasil
Trump citou Bolsonaro em carta
Ao justificar a elevação da tarifa sobre o Brasil, Trump citou Jair Bolsonaro e disse ser “uma vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF). (veja a íntegra do documento)
Na carta, o republicano afirmou, sem provas, que a decisão de aumentar a taxa sobre o país também foi tomada “devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”.
“[Isso ocorreu] como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro”, escreveu o republicano.
Segundo a carta, a tarifa de 50% será aplicada sobre “todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os EUA, separada de todas as tarifas setoriais existentes”. Produtos como o aço e o alumínio, por exemplo, já enfrentam tarifas de 50%, o que impacta diretamente a siderurgia brasileira.
Segundo a pasta, as conversas com os EUA estavam concentradas na proposta de uma tarifa de 10% voltada aos países do Brics, e não havia qualquer indicação de que o Brasil seria alvo de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações.
Tarifas de Trump contra o Brasil não vão influenciar o STF
Déficit comercial?
Ao justificar a medida, Trump também afirmou que a relação comercial dos EUA com o Brasil é “injusta”. “Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco”, escreveu.
“Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os EUA. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional”, disse Trump na carta a Lula.
Ao longo desse período, as vendas americanas ao Brasil superaram suas importações em US$ 90,28 bilhões (equivalente a R$ 493 bilhões na cotação atual), considerando os números até junho de 2025. Leia mais aqui.
Por isso, analistas apontam que a postura de Trump com as tarifas tem um forte componente geopolítico, com o objetivo de ampliar seu poder de barganha e influência nas relações internacionais.
Na carta, o republicano também afirmou que o Brasil não será atingido pela tarifa caso empresas brasileiras decidam “construir ou fabricar produtos dentro dos EUA”. Em caso de retaliação, ele prometeu devolver na mesma medida.
“Se por qualquer razão o senhor [presidente Lula] decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos”, declarou.
Presidente dos EUA, Donald Trump — Foto: WIN MCNAMEE / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP