Droga, chamada comercialmente de Sunlenca, é um medicamento injetável aplicado somente duas vezes por ano.
AP via Business Wire
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou nesta segunda-feira (14) uma recomendação para o uso do lenacapavir duas vezes ao ano para prevenção do HIV.
O medicamento injetável seria uma opção adicional de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP), uma alternativa eficaz e de longa duração às pílulas orais.
➡️Em 2024, um estudo publicado na revista científica “New England Journal of Medicine (NEJM)” mostrou que o antirretroviral apresentou uma eficácia geral de 100% na prevenção do HIV em mulheres. (relembre abaixo)
Em um estudo posterior feito ainda em 2024 com 3.265 pessoas de diferentes gêneros, apenas dois voluntários que fizeram uso do remédio contraíram a doença.
“Embora ainda não tenhamos uma vacina contra o HIV, o lenacapavir é a melhor alternativa: um antirretroviral de longa ação que, em estudos clínicos, preveniu quase todas as infecções entre pessoas em risco”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
As novas diretrizes surgem em um momento crítico, segundo a OMS, com a estagnação nos esforços de prevenção ao HIV no mundo. Ao todo, 1,3 milhão de novas infecções foram registradas no ano passado.
Além do medicamento injetável, o órgão também passou a recomendar sejam utilizados testes rápidos para diagnóstico do HIV, eliminando procedimentos complexos e caros.
Eficácia comprovada
Em dados apresentados na 25ª conferência internacional sobre a Aids, que aconteceu em Munique, na Alemanha, em 2024, e publicados no NEJM, Gilead Sciences mostrou que o antirretroviral lenacapavir tem uma eficácia geral de 100% na prevenção da infecção pelo HIV-1 – responsável por quase todas as infecções de HIV no mundo.
Segundo a publicação, que trouxe dados desse acompanhamento de mais de 2 mil mulheres cisgênero na Uganda e na África do Sul, o medicamento injetável aplicado somente duas vezes por ano se provou tão eficaz que o estudo clínico chegou a ser interrompido precocemente, já que os números superaram os critérios de interrupção pré-definidos.
Por causa disso, o Unaids, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, também emitiu um comunicado recente afirmando que o medicamento oferece uma esperança de acelerar os esforços para acabar com a Aids como ameaça à saúde pública até 2030 – meta que faz parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Célula infectada por partículas do vírus HIV, anexas à superfície
National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID)
No entanto, para que isso aconteça, a agência da ONU diz que a Gilead precisará assegurar que todas as pessoas que necessitam desse medicamento (que custa cerca de US$ 40 mil por pessoa, por ano) tenham seu acesso garantido.
“Garantir o acesso global equitativo a novas tecnologias pode ajudar o mundo a se colocar no caminho para acabar com a Aids como uma ameaça à saúde pública até 2030”, afirmou Winnie Byanyima, Diretora Executiva do Unaids.
Em junho, a FDA, a Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, aprovou o medicamento para prevenção ao HIV-1. No Brasil, o lenacapavir ainda não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Ao g1, a Gilead do Brasil informou, ainda em 2024, que a submissão no país da droga, assim como em outros mercados, está “em fase de planejamento interno e, dessa forma, não é possível fornecer uma data estimada”.
Chamado comercialmente de Sunlenca, o lenacapavir é visto como uma alternativa em comparação com os atuais medicamentos preventivos orais de uso padrão para a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP).
Disponível no SUS desde 2018, esses remédios são tomados (PrEP diária e sob demanda) antes da relação sexual, o que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
No Brasil, porém, mulheres cis não podem usar a PrEP sob demanda. Estudos antigos – e bastante debatidos – mostraram que o medicamento é menos eficaz nas mucosas vaginais do que nas anais, e que o estrogênio (um hormônio sexual mais presente em mulheres) pode diminuir ainda mais essa eficácia.
Pesquisa inovadora
O estudo da Gilead provou que NENHUMA das 2.134 mulheres que recebeu o lenacapavir contraiu o HIV.
Em comparação, 16 das 1.068 mulheres (ou 1,5%) que tomaram entricitabina (FTC) e fumarato de tenofovir desoproxila (TDF), a combinação farmacológica da PrEP, foram infectadas.
Já 39 das 2.136 mulheres (1,8%) que receberam emtricitabina (FTC) e tenofovir alafenamida (TAF), um comprimido diário chamado comercialmente de Descovy, foram infectadas.
Esses dados confirmam que o lenacapavir, administrado duas vezes ao ano para prevenção do HIV, é um avanço revolucionário com um enorme potencial para a saúde pública. Se aprovado e disponibilizado de forma rápida, acessível e justa para aqueles que precisam ou desejam, essa ferramenta de longa duração pode ajudar a acelerar o progresso global na prevenção do HIV.
“Esse é o melhor resultado que já tivemos sobre prevenção. É um estudo sem precedentes. A única forma que conseguimos prevenir o HIV foi com estratégias biomédicas, usando remédios como esse”, explica Ricardo Diaz, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que está realizando esses testes do medicamento no país.
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O que é essencial saber sobre o HIV e a Aids
A Aids é uma doença causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, na sigla em inglês). Esse vírus invade e enfraquece o sistema imunológico, que protege o corpo contra doenças.
O HIV atinge principalmente os linfócitos T CD4+. Ele modifica o DNA dessas células e se replica. Após se multiplicar, o vírus destrói os linfócitos e continua a infecção em novas células.
Pessoas que vivem com HIV/Aids (PVHA) com carga viral indetectável têm risco zero de transmitir o vírus por via sexual. Já pessoas que vivem com HIV/Aids que não estão em tratamento ou possuem carga viral detectável podem transmitir o vírus a outras pessoas.
A transmissão pode ocorrer por meio de relações sexuais sem proteção, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, caso não sejam adotadas as medidas preventivas necessárias.
A maneira mais eficaz de prevenir o HIV é a prevenção combinada, que utiliza várias abordagens simultâneas para atender diferentes necessidades e formas de transmissão.
Já a PrEP é uma das principais formas de prevenção do HIV. Comprimidos são tomados (PrEP diária e sob demanda) antes da relação sexual, o que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
Se você teve uma situação de risco, como sexo desprotegido ou uso compartilhado de seringas, faça o teste de HIV. Se a exposição ocorreu há menos de 72 horas, procure informações sobre a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP).
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