Quando o silêncio se torna cúmplice
→ A denúncia feita por profissionais do Hospital Regional de Betim é grave — e não pode ser tratada com indiferença. Em vez de encontrar respeito e acolhimento no exercício de uma função tão essencial quanto a de salvar vidas, esses trabalhadores relatam viver sob um regime de medo, onde coações, perseguições e ameaças veladas fazem parte do expediente.
Não se trata de um desabafo isolado, mas de um grito coletivo de socorro abafado pela estrutura de poder. Em um ambiente onde o foco deveria ser o cuidado com o próximo, o que se impõe é o receio de represálias. O medo substituiu o diálogo. A desconfiança tomou o lugar do respeito.
→ Na manhã em que nossa equipe esteve presente no hospital, a secretária de Saúde, Jaqueline, esteve na unidade. Solicitou que a imprensa aguardasse, pois conversaria com os manifestantes antes de qualquer posicionamento. Aguardamos até às 12h. Mas não houve resposta, nem explicações. Um silêncio frio — o mesmo que parece pairar sobre quem denuncia, quem questiona, quem resiste.
Silenciar diante da dor de servidores é tornar-se cúmplice de um sistema que adoece aqueles que deveriam estar cuidando. O poder público tem a obrigação de zelar pelo bem-estar dos profissionais da saúde. Não apenas com salários e estrutura, mas com respeito, escuta ativa e garantia de dignidade no ambiente de trabalho.
Este editorial não busca condenar sem ouvir. O direito de resposta permanece aberto — como deve ser em qualquer democracia saudável. Mas, até aqui, o que temos é o eco do silêncio da secretária de saúde.
E enquanto houver silêncio do alto, que haja voz na base. Seguiremos acompanhando, investigando e dando espaço a quem precisa ser ouvido. Porque o jornalismo existe, antes de tudo, para isso: iluminar onde tentam apagar a verdade.
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Matéria: Gilberto Cruz
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