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Tarifas de Trump: entenda por que só parte dos produtos ficou isenta | G1

por Redação
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Para Abrão Neto, presidente da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), a pressão inflacionária foi o ponto central da mudança. “Com a alta de preços pesando sobre o consumidor americano, especialmente nos alimentos, o governo buscou formas de conter custos internos.”

Não por acaso, os 238 produtos liberados da tarifa de 40% têm forte relação com a cadeia agroindustrial americana, incluindo itens como carnes bovinas e suínas, café, cacau, frutas tropicais, sucos, castanhas, alguns fertilizantes e insumos nos quais o Brasil é um fornecedor difícil de substituir. (veja mais abaixo)

  • 🔎 Com o governo americano paralisado, a divulgação de indicadores oficiais — como os dados de inflação — ficou suspensa nos últimos meses.
  • ⚠️ Mesmo assim, uma pesquisa do instituto Ipsos indica que 59% dos americanos atribuem a Donald Trump a responsabilidade pela alta dos preços dos alimentos ao longo do ano.

Frederico Lamego, diretor de relações internacionais da CNI, lembra que setores como máquinas e equipamentos, móveis, couro, calçados, aviação, óleos e minerais seguem arcando com o adicional de 40% imposto em julho. Para ele, a continuidade dessas cobranças reforça a necessidade de avanço nas tratativas.

“Existe a questão da pressão inflacionária, mas também a urgência de um processo dinâmico de negociação para resolver o problema o quanto antes. É uma situação delicada para a indústria”, afirma.

Tarifas aplicadas pelos EUA. — Foto: Arte/g1

Avanço diplomático

Além da motivação econômica, a decisão dos EUA também carrega um componente diplomático. Lamego reforça que a ordem executiva faz referência — pela primeira vez desde julho — ao processo de negociação com o Brasil, o que sinaliza mudança no clima político entre os dois países.

“Foi um gesto de boa vontade de Washington para o avanço das negociações comerciais com o Brasil.”

Abrão Neto, da Amcham Brasil, ainda acrescenta que a medida não surgiu de forma espontânea: ela responde a uma proposta apresentada pelo governo brasileiro e marca a retomada de conversas que estavam paralisadas.

Para ele, o ambiente político recente ajudou a destravar esse movimento.

“O distensionamento político entre Brasil e EUA, com a aproximação entre os dois presidentes e o início de uma negociação, também contribuiu para abrir espaço e criar condições para que essa decisão se materializasse”, reforça.

Apesar do avanço, a maior parte das exportações brasileiras continua fora da lista de isenção e permanece sujeita às tarifas ampliadas. A avaliação é que esses setores foram mantidos de fora porque os Estados Unidos aguardam uma proposta mais consistente do governo brasileiro.

“Algo que vá além da discussão tarifária e aprofunde a integração e as contrapartidas”, afirma Frederico Lamego.

Nem tudo está isento

Segundo João Henrique Gasparino, diretor executivo da NimbusTax, o alívio tarifário anunciado pelos EUA não alcança todas as exportações brasileiras, já que a isenção se aplica apenas aos produtos listados na nova ordem executiva.

“Todos os demais itens brasileiros, que não aparecem no anexo, seguem sujeitos ao adicional de 40%, especialmente aqueles com forte pressão de produtores americanos ou usados como moeda de troca nas negociações com o governo brasileiro”, afirma.

Ele ressalta que, mesmo entre os produtos contemplados, o benefício é limitado, pois só elimina a sobretaxa de 40%. “Permanecem as tarifas de base, medidas antidumping e barreiras sanitárias, o que mantém custos relevantes para parte das exportações”, reforça o especialista.

Gasparino também observa que a medida tem efeito retroativo a 13 de novembro, o que permite solicitar o reembolso do valor pago desde essa data.

O que dizem os setores que ficaram de fora da isenção?

Mesmo com o alívio tarifário concedido a parte das exportações brasileiras, setores importantes da indústria continuam totalmente expostos à sobretaxa aplicada pelos Estados Unidos. Entre eles estão os fabricantes de calçados e de móveis, que não foram incluídos na lista de produtos beneficiados.

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) recebeu a medida com cautela, ainda que veja algum avanço no diálogo entre os dois países.

Embora o setor tenha ficado de fora da retirada da tarifa extra, o presidente-executivo Haroldo Ferreira afirma que a iniciativa abre uma porta para negociações mais amplas. “A decisão traz esperança de uma resolução para o imbróglio que vem prejudicando as exportações de calçados desde agosto”, diz.

Segundo ele, o impacto continua significativo: “O tarifaço de 50% vem causando enormes prejuízos, especialmente para empresas do Rio Grande do Sul e de São Paulo, os principais exportadores para aquele país.”

Entre as indústrias moveleiras, representadas pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), o entendimento é ainda mais crítico. Para a entidade, a ordem executiva praticamente não altera o quadro atual.

“O setor segue lidando com revisão de pedidos, renegociação de contratos e redirecionamento de exportações, enquanto tenta mitigar as perdas”, afirma a associação.

A Abimóvel afirma atuar junto às autoridades brasileiras e americanas para demonstrar que a manutenção das tarifas “não contribui para a segurança econômica dos EUA e encarece o produto para o consumidor americano”.

A entidade avalia que a decisão é um gesto inicial de abertura, mas insuficiente para recuperar previsibilidade e competitividade. A expectativa é que a lógica aplicada aos alimentos — com foco na inflação e na garantia de oferta — seja considerada também para bens industriais nas próximas rodadas de negociação.

O g1 também procurou o Instituto Aço Brasil e a Associação Brasileira do Alumínio, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Complexo Industrial e Portuário do Pecém — Foto: Divulgação/CNI

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