Outubro é o mês nacional de combate à sífilis
O Boletim Epidemiológico de Sífilis 2025, publicado pelo Ministério da Saúde, mostra que o Brasil registrou queda no número de casos de sífilis congênita pela primeira vez em três anos. Foram 24.443 diagnósticos em 2024, o que representa uma redução de 2.677 casos em relação a 2022.
Apesar do recuo na transmissão vertical — de mãe para bebê —, a sífilis adquirida segue em crescimento no país, especialmente entre adultos com mais de 40 anos, grupo que antes apresentava taxas menores, mas que vem registrando aumento constante desde 2021.
Queda inédita entre recém-nascidos
O boletim aponta que, em 2024, a taxa de sífilis congênita foi de 9,6 casos por mil nascidos vivos, com 183 óbitos em menores de um ano, o que equivale a um coeficiente de mortalidade infantil de 7,2 por 100 mil nascidos vivos.
Os estados com maiores taxas foram Tocantins (17,8) e Espírito Santo (12,9), ambos acima da média nacional. O Rio de Janeiro liderou entre gestantes, com 68,3 casos por mil nascidos vivos.
O Ministério da Saúde atribui o avanço no controle da transmissão vertical à ampliação da testagem e ao tratamento precoce. Em 2024, foram distribuídos 4,5 milhões de testes rápidos combinados para HIV e sífilis; em 2025, o volume subiu para 6,5 milhões, com foco em gestantes e populações mais vulneráveis.
Teste rápido para detectar sífilis está disponível nas Unidades Básicas de Saúde
Gea/Divulgação
Avanço entre adultos acima de 40 anos
Embora a epidemia ainda tenha maior intensidade entre os jovens, o boletim destaca um crescimento consistente entre adultos de 40 a 49 anos e com 50 anos ou mais.
Entre 2021 e 2022, as taxas passaram de 76,8 para 98,8 casos por 100 mil habitantes na faixa de 40 a 49 anos, e de 50,6 para 67,6 por 100 mil entre os que têm 50 anos ou mais.
“Os resultados indicam crescimento também em faixas etárias mais avançadas, o que sugere a necessidade de ampliar estratégias de prevenção e diagnóstico voltadas a esse grupo populacional”, diz o boletim.
Médica ginecologista e mastologista, Flávia Purcino explica os fatores por trás do aumento:
“Muitas pessoas retomam a vida sexual após separações ou novos relacionamentos, mas nem sempre usam preservativo. Além disso, há uma falsa sensação de segurança — como se as ISTs fossem um problema apenas dos jovens. A sífilis pode acometer qualquer pessoa sexualmente ativa, e a prevenção deve ser constante em todas as fases da vida”, detalha.
Em 2024, o Brasil registrou 120,8 casos de sífilis adquirida por 100 mil habitantes, a maior taxa desde o início da série histórica.
Ao todo, o país soma 1,9 milhão de notificações de sífilis adquirida entre 2010 e junho de 2025, e 810 mil casos em gestantes desde 2005.
O que é a sífilis e por que ainda preocupa
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. É conhecida como a “grande imitadora”, por apresentar sintomas variados ou até imperceptíveis.
A transmissão ocorre principalmente por relações sexuais desprotegidas, mas também da mãe para o bebê durante a gestação ou o parto.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alberto Chebabo, a doença ainda é cercada por desinformação e estigma.
“A sífilis é conhecida como a ‘grande imitadora’ por causar sintomas muito variados ou, às vezes, nenhum. Isso faz com que muitas pessoas a ignorem. O acesso a testes rápidos e o tratamento precoce salvam vidas”, afirma Chebabo.
O tratamento é simples, gratuito e eficaz, feito com penicilina benzatina no Sistema Único de Saúde (SUS).
Mitos e verdades sobre a sífilis
A sífilis é transmitida apenas por meio de múltiplos parceiros ou sexo desprotegido? Mito. Basta uma única relação sexual sem proteção com uma pessoa infectada para ocorrer a transmissão. Também pode ser passada da mãe para o bebê durante a gravidez ou o parto.
Se o cancro duro (a ferida inicial) sumir sozinho, estou curado? Mito. A ferida desaparece, mas a bactéria continua ativa no corpo e a doença progride.
Posso contrair sífilis novamente mesmo após ter sido tratado? Verdade. Não existe imunidade permanente. É possível se reinfectar várias vezes se houver nova exposição.
A sífilis é difícil de diagnosticar? Mito. Hoje, a testagem é simples, rápida e eficaz, especialmente com os testes rápidos disponíveis na rede pública.
O tratamento da sífilis é simples e eficaz? Verdade. O tratamento com penicilina benzatina cura a infecção quando feito corretamente e sob acompanhamento médico.
Se a gestante estiver com sífilis, o bebê sempre terá sequelas graves? Mito. O risco é alto sem tratamento, mas a penicilina durante o pré-natal evita quase todas as complicações.
“A informação, aliada à testagem ampla e acessível, é a ferramenta mais poderosa para enfrentar a sífilis e proteger a população”, completa Chebabo.
(Fontes: Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia – SBI; Flávia Purcino, ginecologista e mastologista).