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Por que o governo do liberal Milei decidiu intervir novamente no câmbio

por Redação
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A decisão surpreendeu o mercado por vir de um governo de agenda ultraliberal. Em abril, por exemplo, o próprio governo havia comemorado o fim do “cepo” — sistema que restringia a compra de dólares pelos argentinos para tentar controlar o valor do peso.

Apesar de ser mais branda, a nova medida preocupa economistas ouvidos pelo g1, que alertam para novos riscos à confiança dos investidores. Muitos haviam retornado ao país atraídos pelas políticas de Milei, mas agora veem o governo recorrer novamente ao Tesouro para tentar conter a queda do peso em meio a uma crise política.

A seguir, os principais fatores que motivaram a decisão do presidente argentino e a forma como o mercado reagiu à mudança de estratégia.

A agenda ultraliberal de Milei

Entre as propostas que reforçam essa imagem estão:

  • Defesa da dolarização: chegou a propor a substituição do peso pelo dólar como moeda oficial, extinguindo a política monetária nacional;
  • Fechamento do Banco Central: defende a extinção da instituição, alegando que ela seria responsável pela inflação e pela instabilidade recorrente da moeda;
  • Cortes profundos no Estado: propõe privatizar estatais, reduzir ministérios e enxugar os gastos públicos ao mínimo;
  • Abertura comercial ampla: sugere eliminar tarifas e barreiras regulatórias, permitindo concorrência plena com produtos estrangeiros;
  • Visão radical sobre direitos trabalhistas e subsídios: questiona normas do mercado de trabalho, sindicatos e propõe acabar com subsídios a setores considerados “ineficientes”.

Por que o governo Milei voltou a intervir no câmbio?

1. Queda do peso argentino e risco de inflação

Embora tenha conseguido reduzir a inflação que ultrapassava 200% ao ano, por meio de um plano severo de cortes nos gastos públicos, o governo Milei ainda não conseguiu gerar plena confiança na economia nem atrair um bom volume de investimentos estrangeiros.

O presidente ainda enfrenta dificuldades para acumular reservas em dólar, essenciais para garantir o pagamento das dívidas argentinas e reduzir a vulnerabilidade do peso. Em última instância, essas reservas facilitariam até a prometida transição para a dolarização da economia.

Na tentativa de recuperar a confiança dos investidores, Milei tem dado passos calculados.

Quando extinguiu o “cepo”, em abril, o câmbio passou a flutuar de forma mais livre. Por um lado, a medida agradou ao mercado por seu viés liberal. Por outro, enfraqueceu ainda mais o peso, já que a demanda por dólares é maior.

  • 🔎 Em outras palavras: enquanto os argentinos buscam proteger suas economias comprando dólares, o governo tenta evitar que a desvalorização do peso volte a pressionar os preços.

Apesar de algum sucesso inicial, as reservas voltaram a cair em 2025, e chegaram a cerca de US$ 7 bilhões negativos após o fim do “cepo”. Começa um círculo vicioso: com pouco dinheiro em caixa, o governo tem menor capacidade de intervir, e o peso tende a se desvalorizar ainda mais.

Fora isso, a valorização do dólar encarece importações, reduz a confiança na moeda local e alimenta a inflação — fator central para a manutenção do apoio popular a Milei.

Diante disso, o governo argentino endureceu as regras para operações em moeda estrangeira com credores comerciais. Assim, os bancos ficaram proibidos de ampliar sua posição em câmbio à vista no último dia do mês, medida que busca evitar manobras capazes de aumentar a demanda por dólares e pressionar o peso.

Até então, o governo vinha elevando a taxa de juros de referência para tentar conter a valorização do dólar frente ao peso, mas a estratégia não se mostrou suficiente. Agora, segundo Carlos Henrique, diretor de operações da Frente Corretora, a nova intervenção é uma “contenção de crise”.

“O governo já vinha tentando reduzir a volatilidade com aumento de juros e restrições bancárias, mas a pressão sobre o peso tornou a intervenção direta inevitável, refletindo problemas que vinham se acumulando desde antes da crise política atual e a incapacidade de resolver a crise fiscal”, afirma.

Para Henrique, embora Milei já tivesse recorrido a intervenções indiretas, a medida anunciada ontem representa uma “mudança drástica” em relação à sua política econômica liberal. “Ao intervir, o governo abandona temporariamente a ideia de que o mercado deve se autorregular e assume um papel de controle, característico de políticas mais heterodoxas”.

2. Escândalo de corrupção envolvendo Karina Milei

Milei também enfrenta crises políticas que fragilizam seu governo e afastam investidores. No fim de agosto, um escândalo — com direito a áudios vazados, acusações de corrupção e disputas internas — atingiu a cúpula do poder argentino.

Nos áudios, Diego Spagnuolo, ex-aliado do governo, acusa Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, de envolvimento em corrupção.

Presidente argentino, Javier Milei, e sua irmã Karina Milei. — Foto: Gustavo Garello/ AP Photo

Spagnuolo é ex-chefe da Agência Nacional para a Deficiência (Andis). Segundo ele, Karina e o subsecretário Eduardo “Lule” Menem teriam exigido propina de indústrias farmacêuticas para a compra de medicamentos destinados à rede pública.

Segundo relatório do Bradesco BBI, escândalos políticos como esse “fragmentam o cenário, minando a reputação e a confiança. A perda de influência no Congresso leva a uma expansão fiscal não planejada, em conflito com as metas do FMI”.

  • 🔎 Quando investidores estrangeiros retiram recursos, há menos dólares em circulação, o que aumenta a demanda pela moeda americana em relação ao peso. Isso faz com que o peso perca valor, já que o câmbio passa a refletir uma moeda mais escassa diante da demanda existente.

Tudo isso acontece às vésperas das eleições provinciais de Buenos Aires, marcadas para o próximo domingo (7), que definirão novos deputados e senadores nacionais.

A aprovação do presidente recuou oito pontos em cinco semanas, chegando a 41%, o que evidencia sua fragilidade antes das eleições.

“A instabilidade política atuou como catalisador para a desvalorização da moeda, forçando Milei a intervir”, afirma Henrique.

Javier Milei, à época candidato à presidência da Argentina, ergue uma nota de dólar com seu próprio rosto — Foto: Natacha Pisarenko/AP

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