Início » Omeprazol causa demência? O que se sabe sobre os riscos do uso contínuo

Omeprazol causa demência? O que se sabe sobre os riscos do uso contínuo

por Redação
omeprazol-causa-demencia?-o-que-se-sabe-sobre-os-riscos-do-uso-continuo


Omeprazol: por que o remédio está sendo cortado das receitas?
A suspeita de que o omeprazol, um dos remédios mais usados do Brasil, pudesse estar ligado à demência e Alzheimer vem sendo debatida há anos, mas até hoje não há prova científica de causa e efeito. O que se sabe, segundo neurologistas e gastroenterologistas, é que o uso contínuo e sem reavaliação médica pode trazer riscos reais, mas eles não envolvem perda cognitiva direta.
O debate começou em 2014, quando um estudo alemão — publicado no periódico JAMA Neurology — observou uma possível associação entre o uso prolongado de inibidores de bomba de prótons (IBPs) e maior incidência de demência em idosos. Essa classe inclui o omeprazol, pantoprazol e esomeprazol.
Porém, segundo especialistas ouvidos pelo g1, o estudo era observacional e não provava relação de causa e efeito. Pesquisas mais amplas e posteriores, como um trabalho finlandês de 2017 na revista Neurology com mais de 250 mil pacientes, não confirmaram a associação.
Em revisões mais recentes, como a publicada em 2023 na Alzheimer’s Research & Therapy, também não foi encontrada relação causal entre o uso de IBPs e demência.
Associação não é causa
Para o médico neurologista e intensivista da Clínica Sartor Iago Navas, a confusão entre associação e causalidade é o ponto central dessa discussão. Ele explica que pacientes que usam IBPs tendem a ter outras condições médicas, e essas variáveis podem explicar parte dos achados.
De acordo com ele, o perfil clínico e o contexto do paciente — idade avançada, polifarmácia, má alimentação e comorbidades — podem ser fatores de confusão.
“Essas pessoas, por terem mais doenças associadas e usarem mais remédios, já têm um risco aumentado de declínio cognitivo. Isso não significa que o omeprazol seja o causador”, observa Navas.
A maioria dos estudos reforça, no entanto, que o possível elo entre o uso prolongado de IBPs e o declínio cognitivo se deve a fatores indiretos, e não a uma ação tóxica do medicamento sobre o cérebro.
Um dos principais pontos levantados pela literatura médica é a deficiência de vitamina B12, nutriente essencial para o funcionamento do sistema nervoso.
O ácido gástrico ajuda a liberar a B12 dos alimentos — e quando ele é suprimido por longos períodos, a absorção cai. Isso pode levar, em casos de uso contínuo e sem acompanhamento, a níveis baixos da vitamina, associados a sintomas como fadiga, formigamentos, lapsos de memória e dificuldade de concentração.
“É uma relação indireta: o remédio não causa o problema cognitivo, mas pode facilitar uma deficiência que interfere no metabolismo cerebral”, explica Navas.
Essa possibilidade tem sido documentada em revisões publicadas em revistas como Journal of the American Geriatrics Society (2020) e Frontiers in Pharmacology (2022), que apontam redução dos níveis séricos de B12 em usuários crônicos de IBPs, especialmente idosos.
Mesmo assim, os trabalhos ressaltam que a correção da deficiência reverte os sintomas, e que o medicamento continua seguro quando usado sob supervisão médica.
Uso prolongado de remédios da classe do omeprazol aumenta a chance de problemas gastrointestinais.
Fabio Hofnik/Flicrkr/via UCL
Uso prolongado exige reavaliação
A gastroenterologista Débora Poli, do Hospital Sírio-Libanês, relembra que o omeprazol e outros IBPs foram desenvolvidos para uso controlado e por tempo definido.
“É um medicamento importante, mas não inofensivo. Deve ser usado com indicação precisa e tempo determinado”, afirma.
Débora explica que a acidez gástrica tem papel essencial na digestão e na absorção de nutrientes. O bloqueio ácido contínuo pode reduzir a absorção de vitamina B12, ferro e magnésio, o que — no longo prazo — pode ter impacto sistêmico, embora não exista comprovação de dano cerebral direto.
O uso prolongado também está associado a maior risco de infecções intestinais e a mudanças na microbiota, mas esses efeitos não têm relação comprovada com alterações cognitivas.
Oncologista clínico e diretor da Clínica First, Raphael Brandão ressalta que a segurança do tratamento depende menos do medicamento em si e mais de como ele é utilizado.
“O objetivo é usar a menor dose, pelo menor tempo possível, e sempre com reavaliação médica”, afirma.
Na mesma linha, a cirurgiã do aparelho digestivo Vanessa Prado, do Hospital Nove de Julho, explica que a própria classe dos inibidores de bomba de prótons evoluiu muito desde o lançamento do omeprazol.
“Hoje há bloqueadores de prótons mais modernos, com perfis farmacológicos mais estáveis e melhor absorção”, explica.
Quem precisa de mais cuidado
Segundo ela, a chave está em individualizar o tratamento. O uso prolongado e sem necessidade clínica, ainda comum entre pacientes que se automedicam, pode ser evitado com acompanhamento regular e ajuste de doses conforme o quadro de cada pessoa.
Os efeitos adversos, quando ocorrem, tendem a se concentrar em idosos e pacientes em uso de múltiplos medicamentos.
Esses grupos, segundo Navas, são mais propensos a deficiências nutricionais e interações medicamentosas. O acompanhamento deve incluir exames de vitamina B12, magnésio e densitometria óssea, conforme o tempo de uso e o histórico do paciente.
O que se sabe
Não há evidência científica de que o omeprazol cause demência ou Alzheimer.
O uso prolongado pode reduzir a absorção de nutrientes como B12 e magnésio.
A deficiência nutricional, e não o remédio em si, pode influenciar funções cognitivas.
O uso contínuo e sem supervisão aumenta riscos gastrointestinais e metabólicos.
“O foco não é o medo, e sim o acompanhamento”, resume Débora Poli. “Usar com indicação correta, por tempo determinado e sob supervisão médica é o que garante segurança.”

você pode gostar

SAIBA QUEM SOMOS

Somos um dos maiores portais de noticias de toda nossa região, estamos focados em levar as melhores noticias até você, para que fique sempre atualizado com os acontecimentos do momento.

CONTATOS

noticias recentes

as mais lidas

Jornal de Minas © Todos direitos reservados à Tv Betim Ltda®