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Mulheres Invisíveis, Mães Incansáveis: A Realidade Cruel de Quem Cuida e Não Pode Cair

por Drª. Ingrid Dialhane

“Ela não tem o direito de adoecer, de chorar, de parar. Porque, se ela parar, tudo desmorona.”

Todos os dias, milhões de mulheres brasileiras acordam antes de o sol nascer e vão dormir depois que todos já descansam. Elas cozinham, limpam, medicam, acolhem, organizam e sustentam com amor a vida de outras pessoas. São mães cuidadoras, trabalhadoras domésticas e diaristas — mulheres que dedicam seu tempo e energia para manter de pé lares, famílias e até instituições.

Mas uma pergunta desconfortável precisa ser feita: onde estão os direitos previdenciários dessas mulheres?

O que ninguém vê: o sofrimento diário de uma mãe cuidadora

Não é só físico. O desgaste é mental, emocional e existencial. Essas mulheres vivem sob um peso invisível: o de sustentar não apenas uma casa, mas a vida e o futuro de alguém que depende inteiramente delas.

Muitas vezes:

  • Dormem 4 horas por noite;
  • Passam o dia inteiro entre cuidados, tarefas domésticas e trabalho informal;
  • Lidam com crises, dores, convulsões, idas ao hospital e burocracia;
  • Fazem malabarismos para conseguir remédios, laudos, exames, transporte e alimentação;
  • E ainda precisam gerar renda, pois é a única fonte de sustento da casa.

E, quando o pai da criança está ausente — o que é muito comum —, sobra para ela tudo: contas, cuidados, decisões, e até o desprezo.

Quando o pai abandona e ainda atrapalha

Muitas dessas mulheres foram casadas ou viveram uniões estáveis que terminaram por abandono. Em vez de apoio, enfrentam o descaso, a negligência ou até o abuso psicológico do ex-companheiro.

Eles:

  • Não ajudam financeiramente;
  • Se recusam a pagar pensão;
  • Usam o sistema Judiciário como forma de manipulação e desgaste emocional;
  • E, pior, atrapalham tratamentos, se ausentam de decisões médicas e até desacreditam da condição da criança.

Enquanto isso, a mãe cuida, batalha e ainda tem que provar que está certa.

Viúvas e mães solo: sozinhas em todos os sentidos

Aquelas que perderam seus maridos têm o peso do luto somado à sobrecarga. Muitas nem conseguem tempo para chorar. Precisam voltar à luta no dia seguinte. Às vezes, ficam sem o amparo da pensão por morte por questões burocráticas, exigências de documentação ou indeferimentos injustos.

As mães solo, que muitas vezes nunca tiveram sequer o nome do pai na certidão de nascimento do filho, nem sequer têm a quem acionar judicialmente.

Saúde mental: quando a alma grita em silêncio

Ansiedade, depressão, burnout materno, exaustão emocional. Tudo isso, atinge em cheio essas mulheres.

Mas quem cuida da mãe que cuida?

Elas não podem demonstrar fraqueza. Porque o filho precisa dela. A escola exige presença. A terapia cobra pontualidade. O aluguel vence. E ninguém liga para perguntar se ela está bem.

A cobrança é cruel: “Seja forte. Reaja. Seja grata.”

Mas o que ela sente é solidão, dor e medo.

Quando o sistema exige mais do que ela pode dar

Não basta ser mãe, cuidadora, trabalhadora e responsável por tudo. O sistema ainda exige que ela prove, com papéis e protocolos, que precisa de ajuda.

É isso que acontece quando essas mulheres — muitas vezes emocionalmente esgotadas e sem rede de apoio — tentam acessar um benefício:

  • Precisam ir ao CRAS, cadastrar-se no CadÚnico, e aguardar visita domiciliar;
  • Pegar atestados médicos, laudos, receitas, exames atualizados;
  • Pagar do próprio bolso consultas e exames particulares, porque a rede pública está saturada;
  • Ir ao INSS, enfrentar filas, esperar meses por perícia;
  • Ter o pedido indeferido por um erro de interpretação ou uma assinatura ausente.

E, ironicamente, quando o auxílio ou benefício finalmente sai — se sair — o valor já está comprometido com dívidas feitas para conseguir aquilo que o próprio sistema exigiu.

É cruel. É desumano. É uma violência institucional silenciosa, mas que pesa mais do que qualquer sentença.

O que o governo deveria fazer (e ainda não faz):

  • Criar um canal unificado e humanizado de atendimento para mães cuidadoras;
  • Implantar um cadastro automático de famílias com laudo de deficiência para benefícios sociais;
  • Permitir o reconhecimento presumido da condição de vulnerabilidade, evitando a revitimização;
  • Garantir antecipação de tutela em benefícios para quem já apresenta laudos válidos;
  • Facilitar o parcelamento ou isenção de taxas médicas para quem comprova baixa renda.

Conclusão: ninguém deve ser obrigada a ser heroína todos os dias.

Essas mulheres são chamadas de “guerreiras”, “fortes”, “abençoadas”. Mas, no fundo, são seres humanos que estão sendo deixados para trás pelo sistema.

O cuidado é sagrado. Mas ele não pode continuar sendo uma sentença de abandono e exaustão para quem o exerce.

Quem cuida, também precisa ser cuidada.

Quem sustenta, também precisa ser sustentada.

E quem ama, também tem direito ao descanso, ao choro e à proteção.
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Por: Drª Ingred Dialhane

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