Meta de inflação terá novo estouro em junho; Banco Central deverá explicar motivos e em quanto tempo os preços cairão

Meta de inflação terá novo estouro em junho; Banco Central deverá explicar motivos e em quanto tempo os preços cairão

Isso ocorre por conta do novo estouro da meta de inflação, prevista para acontecer em junho deste ano — quando a inflação acumulada em 12 meses ficará acima do teto permitido.

O descumprimento, a partir de junho, ocorre porque a inflação terá ficado por seis meses seguidos acima do teto de 4,5%.

A divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desse mês, que confirmará o estouro da meta de inflação, acontecerá em 10 de julho.

  • A meta contínua de inflação, no Brasil, é de 3%, mas o IPCA pode oscilar entre 1,5% em 4,5% sem que ela seja formalmente descumprida.
  • Em doze meses até maio, a inflação oficial somou 5,32%, bem acima do teto do sistema de metas.
  • Para junho, a projeção do mercado é de que o IPCA some 0,27%, o que manterá a inflação cheia acima do patamar de 5% em doze meses até junho.

De acordo o Banco Central, o IPCA deverá retornar ao intervalo das metas (entre 1,5% e 4,5%) somente no primeiro trimestre de 2026. A projeção consta no relatório de política monetária, divulgado nesta semana.

IPCA-15: Prévia da inflação fica em 0,26% em junho

Nos últimos quatro anos, quando a meta era contabilizada por anos fechados, houve estouro da meta (com a inflação acima do teto permitido) em três deles: 2021, 2022 e 2024.

Carta aberta

De acordo com o sistema de metas de inflação, a carta ao ministro Haddad, que será divulgada em julho, deverá conter, ao menos, esses pontos:

  1. A descrição detalhada das causas do descumprimento da meta;
  2. As medidas necessárias para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos;
  3. O prazo esperado para que as medidas produzam efeito (e a inflação retorne à meta).

Copom decidiu elevar a taxa de juros para 15% ao ano

Sistema de meta contínua

🔎Desde janeiro de 2025, em linha com a experiência internacional, a meta passou a se referir à inflação acumulada em doze meses, apurada mês a mês, também conhecida como ‘meta contínua’.

Todo mês, a inflação acumulada em doze meses é comparada com a meta e seu intervalo de tolerância. Assim, a verificação não fica mais restrita ao mês de dezembro de cada ano.

A meta é considerada descumprida se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos. A utilização desse p​eríodo evita a caracterização de descumprimento em situações de variações temporárias na inflação.

No caso de desvios da inflação da meta, o tamanho do horizonte considerado para atingimento da meta é definido pelo BC. O prazo de convergência da inflação depende da natureza e persistência dos choques e dos mecanismos de transmissão em curso na economia.

No caso de descumprimento da meta, o BC tem de divulgar publicamente as razões do descumprimento por meio de nota no Relatório de Política Monetária e carta aberta ao Ministro da Fazenda.

A nota e a carta devem trazer a descrição detalhada das causas do descumprimento, as medidas necessárias para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo esperado para que as medidas produzam efeito.

Nova nota e nova carta têm de ser divulgadas caso a inflação não retorne ao intervalo de tolerância da meta no prazo estipulado ou caso o BC considere necessário atualizar as medidas ou o prazo esperado para o retorno da inflação ao intervalo de tolerância da meta fixado.

Como o Banco Central atua?

🔎A taxa básica de juros da economia é o principal instrumento do BC para tentar conter as pressões inflacionárias, que tem efeitos, principalmente, sobre a população mais pobre.

  • Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas. Se as projeções estão em linha com as metas, pode baixar os juros. Se estão acima, tende a manter ou subir a Selic.
  • Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses.
  • Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
  • Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o segundo semestre de 2026.
  • Para 2025, 2026, 2027 e 2028, a projeção do mercado para a inflação oficial está em 5,24% (com estouro da meta), 4,5%, 4% e em 3,83%. Ou seja, acima da meta central de 3%, buscada pelo BC.

Na ata de sua última reunião, realizada em maio, o BC informou que se manterá vigilante e a “calibragem” (ritmo) do aperto monetário apropriado (alta do juro) seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação para as metas.

Como funciona a taxa de juros na inflação — Foto: Reprodução página do BC na internet

Desaceleração da economia e juro alto por período prolongado

O BC tem dito claramente que uma desaceleração, ou seja, um ritmo menor de crescimento da economia, faz parte da estratégia de conter a inflação no país.

▶️Na ata da última reunião do Copom, divulgada em maio, o BC informou que o chamado “hiato do produto” segue positivo.

▶️Isso quer dizer que a economia continua operando acima do seu potencial de crescimento sem pressionar a inflação.

▶️O Banco Central também informou que o juro alto já contribui para desaceleração da atividade e que impacto na geração de empregos deve se aprofundar.

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