Entre o silêncio e a resistência: Lula pondera o peso de confrontar Trump
Por Gilbrto Cruz
Brasília — Na política internacional, nem sempre o que se cala é menos poderoso do que o que se diz. Às vésperas da entrada em vigor do tarifaço imposto pelo presidente americano Donald Trump ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou mais do que uma estratégia diplomática: expôs, com sinceridade incomum, os dilemas que um líder enfrenta ao equilibrar firmeza e prudência diante de uma superpotência.
“Tenho um limite de briga com o governo americano. Não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar. Eu tenho que falar o que é possível falar”, disse Lula, com a voz embargada entre o desabafo e o cálculo político, durante a posse de Edinho Silva como novo presidente do Partido dos Trabalhadores, em Brasília.
A declaração, feita diante da militância petista, não foi apenas sobre política externa. Foi sobre coragem. Sobre o peso de representar um país que não se ajoelha, mas que também não pode agir sem pensar. Foi, sobretudo, um lembrete de que o Brasil ainda luta, diariamente, para ser ouvido em pé de igualdade no palco global.
Na última sexta-feira, Trump lançou um recado à imprensa americana: Lula “pode ligar quando quiser”. A frase, que soou como um gesto de abertura, carrega também a típica teatralidade do magnata — o tipo de convite que impõe, sutilmente, uma hierarquia entre líderes. Lula respondeu com sobriedade: “Nosso governo sempre esteve aberto ao diálogo”. Um aceno diplomático, mas que não mascara o distanciamento entre os dois presidentes. Até agora, nenhum dos dois fez o movimento de estender a mão de verdade.
No encerramento do evento nacional do PT, Lula foi além e sugeriu que a postura soberana do Brasil incomoda. “Assusta pessoas que acham que mandam no mundo”, afirmou, sem citar nomes, mas com endereço claro.
O cenário expõe um Brasil diante de mais uma encruzilhada histórica: ceder ou resistir. Lula, mais experiente, mais sereno, não fala mais para agradar manchetes internacionais. Fala com os olhos voltados para o povo que representa, consciente de que, às vezes, a soberania se defende mais com silêncio e inteligência do que com brados de guerra.
Enquanto o tarifaço se aproxima, as entrelinhas do discurso presidencial dizem muito: o Brasil pode até negociar, mas jamais se curvará. E essa postura, firme e medida, talvez seja o maior recado de Lula a Trump — e ao mundo.
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