Lavouras embaixo d

Lavouras embaixo d

Mais de 140 municípios são afetados e 25 cidades estão em situação de emergência; em Jaguari, o estado é de calamidade pública, segundo boletim divulgado pelo governo do RS na segunda-feira (24).

Além disso, mais de 7 mil pessoas estão desabrigadas. Esse poderia ser o caso de Fabiano André Kappaun, de Candelária (próximo a Porto Alegre), mas ele conseguiu alugar uma casa temporária para a família na área urbana do município. A propriedade dele, na zona rural, ficou ilhada.

“As crianças, qualquer chuvinha que dá, ficam apavoradas”, afirma o agricultor de 40 anos.

A casa de Fabiano ficou ilhada em Candelária (RS). — Foto: Arquivo pessoal

Apesar de já ter colhido toda a produção de soja e arroz, Fabiano estima que precisará investir ao menos R$ 100 mil para recuperar o solo. Entretanto, ele não tem esse dinheiro e não sabe se conseguirá voltar a cultivar os grãos caso não obtenha um financiamento.

E ele não foi o único prejudicado na família. Seu irmão perdeu 10 cabeças de gado afogadas. Os corpos foram levados pela água e não puderam ser recuperados.

O produtor também sofreu em 2024.

“Ano passado foi 10 vezes pior. Ainda tem coisas do ano passado que tá para consertar. Perdemos tudo”, comenta.

Já em Rio Pardo, próximo a Candelária, Jardel Luis Eisenhardt percebeu que as águas estavam subindo e conseguiu levar seu rebanho para uma área mais alta e protegida. Contudo, toda a pastagem foi perdida: cerca de 80% de seus 45 hectares (equivalente a um aeroporto de pequeno porte) ficaram submersos.

A pastagem só deve começar a ser recuperada a partir de novembro. Até lá, os animais precisarão ser alimentados apenas com ração. A compra, que não era esperada pelo pecuarista de 40 anos, somada ao trabalho para recuperar o solo, deve gerar um gasto extra de R$ 150 mil.

“A gente se prepara para uma coisa e acontece outra. A gente está em uma situação bem crítica”, diz o criador.

Jardel deve gastar R$ 150 mil para recuperar o solo — Foto: Arquivo pessoal

Também moradora de Rio Pardo, Daniela Fernanda Hermes, de 28 anos, trabalha junto com os pais na propriedade deles. A família cultiva frutas e hortaliças e cria peixes, como tilápia e carpa. Apesar da diversidade, não houve área sem prejuízo.

Pelo segundo ano seguido, as chuvas estragaram o plantio dos produtos mais sensíveis, como alfaces e rúculas, e vão precisar ser replantados. As laranjas mofaram ainda no pé — contudo, a agricultora tem esperança que, se o clima melhorar, elas possam ser salvas.

Os peixes, que não ,oram afetados em 2024, morreram dessa vez. O açude da família rompeu e eles foram encontrados mortos na propriedade vizinha.

A criação, que era com foco na Sexta-Feira Santa, significava a renda do próximo ano. Os peixes estavam em fase de engorda e juntos somavam cerca de 200 kg.

Daniela não sabe quando poderá retomar a criação. A máquina para refazer o açude é cara: custa mais de R$ 400 por hora, com um expediente de pelo menos 10 horas. Além disso, há o valor do deslocamento, de cerca de R$ 500.

“A gente nem quis calcular o prejuízo porque deixa a gente triste. Vamos ter que começar tudo de novo. Ou chove demais ou falta chuva. O clima está bem desregulado”, diz a agricultura.

O açude de Daniela rompeu, matando todos os peixes de sua criação — Foto: Arquivo pessoal

As fortes chuvas também levaram embora parte da criação de abelhas de João Maciel Lunardi Cogo, de 41 anos. As 187 colmeias que possuía em Unistalda, próximo a São Luiz Gonzaga, devem gerar um prejuízo de R$ 60 mil. Isso porque, além das abelhas, ele perdeu a estrutura para criá-las e para retirar o mel.

O apicultor, que tem cerca de 1500 colmeias em diferentes cidades, conta que nunca havia sido atingido por enchentes no município. Ele acredita que deve levar de 2 a 3 anos para recuperar o que foi perdido este ano e para as abelhas voltarem a produzir o mel.

As colmeias de João foram levadas pelas chuvas — Foto: Arquivo pessoal

146 municípios são afetados pelas chuvas no RS — Foto: Arte g1

Produtores rurais do RS abandonam o campo depois de perderem tudo com chuvas

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