Gaby Amarantos diz ter perdido 14 kg após enema; médicos explicam riscos e quando o proced
A cantora e compositora Gaby Amarantos provocou polêmica ao revelar que perdeu 14 quilos após recorrer ao chamado enema, uma lavagem intestinal por meio da introdução de grandes quantidades de água no intestino. Ela contou que usou 300 litros de água e a revelação foi feita em entrevista ao “De Frente com Blogueirinha”. O g1 ouviu médicos para entender sobre as indicações para o procedimento e os riscos envolvidos.
O enema, também conhecido como enteroclisma, consiste em uma lavagem intestinal realizada por via retal, feita, na maioria das vezes, para limpar o intestino em pacientes com constipação intestinal grave ou para o preparo de exames e cirurgias abdominais, em ambiente hospitalar.
Em alguns casos, ocorre a formação de fecaloma, que é o acúmulo de fezes no intestino grosso, e o enema é necessário para ajudar na sua eliminação, explica a gastroenterologista do Hospital Sírio-Libanês Debora Poli.
Dispositivos usados para a prática da chuca, ou enema
Divulgação
Lavagens intestinais envolvem riscos, até mesmo em ambiente hospitalar. E a realização delas de forma improvisada em casa potencializa a chance de ocorrência de riscos e é condenada por médicos.
Risco de perfuração intestinal
Como qualquer procedimento médico, o enema pode apresentar complicações. O principal risco é o de laceração ou perfuração do intestino, geralmente por uma má técnica ou pressão excessiva, o que é raro.
“Quando o procedimento é realizado em hospital, por um profissional treinado e capacitado, esse risco é bastante reduzido, mas ainda assim existe. Fora do ambiente hospitalar, o risco é muito maior. Nessas situações, infelizmente, não são raros os casos de complicações, sendo a perfuração intestinal a mais grave e a mais frequente”, alerta Poli.
Gaby Amarantos
reprodução Instagram oficial
Os efeitos adversos mais comuns são cólica abdominal, náuseas e dor retal, segundo a médica nutróloga e fundadora do Instituto Orletti de Medicina do Estilo de Vida, Danielli Orletti. Em alguns casos, podem ocorrer também desequilíbrios eletrolíticos e irritação da mucosa.
“O uso de aplicadores inadequados pode causar perfuração do reto. Equipamentos mal higienizados podem levar à infecção e soluções caseiras — como água com sal, vinagre, sabonete ou café — podem gerar queimaduras químicas e desequilíbrio dos sais do corpo. Além disso, a falta de controle do volume e da temperatura do líquido pode causar sérios desconfortos ou complicações”, acrescenta Orletti.
O paciente também pode ter uma distensão intestinal e uma translocação, que é quando as bactérias caem na corrente sanguínea. “A distensão do intestino pela lavagem intestinal pode gerar um quadro de colite, que é uma inflamação da parede do cólon do próprio intestino. Pode ocorrer também a chamada isquemia intestinal, quando o fornecimento de sangue para o intestino é prejudicado”, explica Aline Paiva, cirurgiã geral e proctologista da Clínica Sartor.
Médicos condenam procedimento
Médicos alertam que não é recomendado fazer a lavagem intestinal fora do ambiente hospitalar, seja para fins sexuais ou terapias alternativas.
A chamada ‘chuca’ – lavagem anal feita em casa com o auxílio de uma pera de borracha ou ducha íntima antes das relações sexuais anais – é comum, mas não é isenta de riscos. Ela pode causar pequenas fissuras, alterar o pH da mucosa e facilitar a entrada de micro-organismos, aumentando o risco de infecções, inclusive ISTs., alerta Orletti.
Existem alternativas seguras para uso domiciliar. Medicamentos específicos, como Fleet Enema e Phosfoenema, já vêm com aplicadores próprios para esse tipo de uso, explica Poli. Mesmo assim, o uso deve ser feito com orientação e prescrição médica, nunca por conta própria. A frequência e a rotina de aplicação também precisam ser definidas pelo médico, conforme a necessidade e a condição de cada paciente, segundo a médica.
“Quando feita com frequência, pode causar irritação e ressecamento da mucosa anal. O ideal é que, se a pessoa optar por realizar alguma forma de higiene, que seja superficial e com pouco volume de líquido, sem tentar uma lavagem profunda. A lavagem correta é feita com água filtrada ou soro fisiológico”, explica a médica.
A perfuração intestinal, que exige cirurgia para correção, é um dos exemplos de possíveis complicações graves. O ideal é que o enema seja feito apenas sob supervisão médica e em ambiente adequado.
Poli condena procedimentos improvisados em casa. No caso de relação sexual anal, a recomendação é procurar um proctologista para receber a orientação correta sobre quais produtos usar e como fazer o preparo de forma segura.
As duchas higiênicas, mangueiras ou duchas de banheiro não devem ser utilizadas para esse fim. A água encanada, mesmo tratada, não é estéril e pode causar irritações, alergias ou infecções, alerta a médica.
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Sem evidência científica
Não existe nenhuma evidência científica de que qualquer tipo de lavagem intestinal ou enema – seja realizada por profissionais habilitados em ambiente hospitalar, seja feita em casa com medicamentos adequados – tenha relação com emagrecimento, explicam os médicos. Esses procedimentos não promovem perda de gordura nem influenciam o peso corporal de forma efetiva.
A lavagem intestinal pode ter benefícios para a saúde?
A lavagem intestinal, ou enema, tem benefício apenas nas situações em que há indicação médica para o procedimento, como:
Exame de colonoscopia, em que é preciso esvaziar o intestino grosso. O enema garante que o exame seja feito com o intestino limpo.
Exames radiológicos
Ressonância da pelve
Cirurgias abdominais
Quando há necessidade de administrar medicamentos por via retal — como soluções anti-inflamatórias, em casos de colite ulcerativa.
Impactação de fezes ou constipação grave, quando medidas como medicações orais, hábitos intestinais e dieta não surtem efeito.
“Geralmente, a lavagem é realizada em ambiente hospitalar em indivíduos idosos ou pacientes com algum outro problema de saúde, como doença cardíaca, e pacientes que já fazem uso de alguma medicação anticoagulante. Esses precisam ser monitorizados e receber uma hidratação extra durante esse preparo. A lavagem intestinal também tem risco de desidratação. Alguns pacientes precisam de monitorização durante a lavagem”, acrescenta Paiva.
Enema com café tem riscos?
Poli alerta que não se deve usar água e muito menos café para realizar enemas. O procedimento correto deve ser feito em ambiente hospitalar, por profissional capacitado, utilizando soro fisiológico estéril ou solução glicerinada estéril, para evitar riscos de contaminação.
A médica afirma que o chamado enema de café se popularizou como uma suposta terapia com benefícios para a saúde, mas não há nenhuma comprovação científica que sustente esses efeitos. Pelo contrário.
“O método traz riscos importantes, como infecção, laceração e perfuração intestinal. No caso de uma perfuração, o uso do café torna a situação ainda mais grave, pois além de ser uma substância potencialmente contaminada, pode causar irritação química no intestino e, em casos mais sérios, no abdômen”, afirma.
Uma revisão sistemática de 2020 avaliou estudos sobre o enema com café e demonstrou diversos riscos, sendo o mais comum o risco de colite.
O enema frequente pode prejudicar o funcionamento do intestino a longo prazo?
Por muito tempo se acreditou que o uso frequente de laxantes ou enemas poderia prejudicar o funcionamento natural do intestino. Mas o entendimento hoje é um pouco diferente. Esses procedimentos, quando bem indicados, são considerados seguros e não interferem diretamente na função intestinal. Mesmo assim, o uso deve sempre ser avaliado e acompanhado por um médico, pois faz parte de um tratamento específico. Não deve ser uma decisão tomada pelo paciente sozinho em casa, explica Poli.
Orletti destaca que o enema não deve ser usado como método de limpeza de rotina, porque o intestino já tem mecanismos naturais para eliminar resíduos. O órgão pode perder o reflexo natural de evacuação, ficar dependente do estímulo mecânico e até ter alterações na motilidade. Também podem ocorrer inflamações, fissuras e alteração da microbiota intestinal.
“A melhor forma de manter o intestino saudável é por meio de hidratação adequada, ingestão de fibras, atividade física e uma rotina alimentar equilibrada”, destaca Orletti.
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