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O comitê reafirmou hoje que as incertezas em torno das perspectivas econômicas seguem elevadas, mas ponderou que elas diminuíram em relação à última reunião. A postura cautelosa do Fed reflete, principalmente, a política tarifária do presidente Donald Trump.
As decisões sobre as taxas de juros nos EUA geram efeitos também no Brasil. Quando as taxas permanecem elevadas, há maior pressão para que a Selic, a taxa básica de juros brasileira, também permaneça alta por mais tempo. Além disso, há impactos no câmbio. (leia mais abaixo)
Economistas e agentes do mercado têm feito uma série de alertas sobre os impactos nos EUA das taxas aplicadas a outros países — em especial, contra os principais parceiros comerciais dos norte-americanos. Algumas tarifas estão em vigor. Outras, foram suspensas.
Mesmo com a suspensão da escalada tarifária, agentes financeiros seguem receosos sobre os rumos da guerra comercial. A preocupação cresce com a aproximação da retomada das taxas do chamado “Dia da Libertação” de Trump, que atingiu mais de 180 países. A medida volta a valer no início de julho.
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O que disse o Fomc
Em comunicado, o comitê reiterou que a atividade econômica dos EUA continuou a se expandir “em um ritmo sólido”, com taxa de desemprego estabilizada em níveis baixos e um mercado de trabalho igualmente sólido.
Diante do cenário, a inflação do país “permanece um pouco elevada”, citou o Fomc. Em maio, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ficou em 2,4% no acumulado em 12 meses — ainda acima da meta de 2% do Fed.
O comitê também reforçou que as incertezas sobre o cenário econômico diminuíram, apesar de seguirem elevadas.
“O Comitê busca alcançar o máximo emprego e uma inflação de 2% ao ano no longo prazo. A incerteza quanto às perspectivas econômicas diminuiu, mas continua elevada. O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato”, disse, em comunicado.
O Fomc também reiterou que “continuará monitorando as implicações das informações recebidas” e que está “preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam dificultar o alcance dos objetivos do Comitê”.
Efeitos da política tarifária
Apesar de o objetivo central de Trump ser priorizar a indústria nacional (e usar as tarifas como barganha em negociações), a cobrança de taxas sobre a importação de produtos pode encarecer o custo de itens produzidos dentro dos EUA, o que tende a pressionar a inflação.
Além disso, a incerteza diante do vaivém tarifário e das ameaças do republicano tem prejudicado a confiança dos consumidores, levantando temores de que a maior economia do mundo possa enfrentar um período de esfriamento — ou, em cenários mais pessimistas, uma recessão.
🔎A taxa anualizada mostra como a economia cresceria em um ano se o ritmo atual for mantido. Essa medida é usada para facilitar a comparação com o crescimento de outros períodos.
O resultado contrariou as primeiras expectativas dos analistas, que previam uma alta de 0,3% para o período, e foi puxado por uma grande quantidade de bens importados por empresas que queriam evitar custos mais altos da política de tarifas anunciada pelo presidente dos EUA.
A confiança do consumidor gerou impactos, à medida que o sentimento empresarial também despencou. As companhias aéreas, por exemplo, citam incerteza devido às tarifas, enquanto economistas alertam que as taxas aumentarão os custos para empresas e famílias.
Prédio do Federal Reserve dos EUA em Washington, EUA (maio/2020) — Foto: Kevin Lamarque / Reuters
Reflexos no Brasil — e nos mercados
Juros elevados nos EUA aumentam o rendimento das Treasuries, os títulos públicos americanos.
Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, as Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que encaminham seus recursos para os EUA e dão força para o dólar.
Em outra perspectiva: o movimento tende a reduzir o volume de investimentos estrangeiros no Brasil, desvalorizando o real em relação à moeda norte-americana.
Além disso, dólar em nível elevado aumenta a pressão sobre a inflação por aqui, com reflexos no ciclo de alta de juros que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil, tem aplicado.