EUA dependem do café brasileiro, e substituição por outros países não seria simples, dizem especialistas

EUA dependem do café brasileiro, e substituição por outros países não seria simples, dizem especialistas

O aumento da taxa, inclusive, poderia inviabilizar o comércio de café entre os dois países. Entenda:

  • Os EUA são os maiores consumidores da bebida no mundo, mas não têm produção significativa e dependem do produto importado.
  • O Brasil é o principal fornecedor do café para os EUA e detém cerca de um terço do mercado norte-americano, que comprou 17% de todo o café brasileiro exportado entre janeiro e maio deste ano.
  • O preço do café nos EUA já está alto e a ausência do produto brasileiro pode agravar o cenário.
  • Se a tarifa de 50% entrar em vigor, os norte-americanos teriam dificuldade de suprir a demanda com outros países, enquanto os exportadores do Brasil buscariam outros mercados.

O impacto dentro dos Estados Unidos

Os EUA produzem só 1% do café consumido por sua população, o que gera a dependência do produto que vem de fora. Caso a tarifa de 50% seja aplicada, o país terá dificuldade para suprir a demanda.

Isso porque o Brasil representa 40% de toda a oferta mundial de café, segundo Fernando Maximiliano, analista da consultoria StoneX Brasil, e os norte-americanos provavelmente deixariam de comprar o produto brasileiro.

Segundo a Cogo Consultoria, a nova taxa tornaria o fluxo de café entre Brasil e EUA “praticamente inviável”.

Nesse cenário, a indústria de café dos EUA precisaria encontrar novos fornecedores, que têm produções bem menores, e pagariam mais caro por isso.

“O Brasil é o principal fornecedor, responsável por 34% do café que os americanos importam. São 8 milhões de sacas. Imagine só como eles fariam para redirecionar a aquisição desse café de outros países”, diz Fernando Maximiliano.

Um exemplo dessa dificuldade é a diferença de produção de café do tipo arábica entre o Brasil, maior produtor mundial, e a Colômbia, segunda na lista. Essa é a variedade de café que os Estados Unidos mais importam.

“O Brasil produz cerca de 40 milhões de sacas de café arábica por ano, e a Colômbia, entre 12 e 13 milhões. A Colômbia não teria esse café todo para substituir o Brasil“, resume Maximiliano.

A falta de café brasileiro contribuiria para encarecer ainda mais o produto no mercado norte-americano. Segundo dados do governo dos EUA, o preço do café subiu 32,4% no país entre junho de 2024 e maio de 2025.

“Eles [norte-americanos] estão extremamente preocupados”, resume Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Os importadores do país não têm muitas alternativas além de buscar um diálogo com o governo Trump. Esse trabalho já está sendo feito pela Associação Nacional de Café dos EUA (NCA, na sigla em inglês).

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O impacto (e as alternativas) para os exportadores brasileiros

Para os exportadores brasileiros, o cenário também é grave. “É a grande tensão do momento”, resume Marcos Matos, do Cecafé.

Perder o maior importador do café brasileiro significaria buscar uma alternativa em outros mercados. Segundo o diretor do Cecafé, a associação brasileira já entrou em contato com o Ministério da Agricultura para informar quais países poderiam substituir os EUA, caso a tarifa realmente entre em vigor.

De acordo com Matos, China, Índia, Indonésia e Austrália, que já são importadores do café brasileiro, são vistos como as principais alternativas.

Brasil é o maior fornecedor de café para os EUA — Foto: Chevanon Photography/Pexels

Entidades pedem negociação

Entidades como a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e o próprio Cecafé, no entanto, recomendam que o melhor caminho para o Brasil seja a diplomacia.

“A Abic defende uma atuação estratégica, firme e diplomática por parte do Brasil, com foco na preservação dos interesses do setor cafeeiro nacional e da nação”, disse a associação, em nota.

Já Marcos Matos, do Cecafé, diz que a entidade está atuando com a NCA para buscar diálogo com o governo Trump.

“Existe um trabalho sendo feito, e nós temos a esperança de que o bom senso prevaleça, a previsibilidade de mercado, porque nós sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano”, disse Matos.

Infográfico – Entenda taxa de 50% anunciada por Trump ao Brasil e a relação econômica com os EUA. — Foto: Arte/g1

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