Demissão no Fed é novo ataque de Trump às instituições dos EUA

Demissão no Fed é novo ataque de Trump às instituições dos EUA

“As ameaças de Trump à independência do Fed parecem que não vão terminar tão cedo. (…) São os primeiros movimentos de xadrez para uma interferência política maior no Fed. Acho que vamos ver mais disso no futuro, não é o fim”, afirmou o economista Atakan Bakiskan.

O Fed é um órgão independente do governo americano que regulamenta a Economia dos EUA e dita questões como a taxa de juros no país. A interferência de Trump ocorre por uma frustração com as decisões do corpo diretor, que não atendeu a reiterados pedidos pela redução dos juros.

Segundo Bakiskan, os ataques ao Fed compõem uma estratégia adotada por Trump de atacar instituições do governo americano que não sigam a lógica desejada por ele. Esse modus operandi, no entanto, pode ter efeitos a longo prazo.

“Esses tipos de ataques a instituições americanas, como a restrição às imigrações legais e ilegais, vão se mostrar de forma mais explícita daqui a 5, 10 anos, quando vermos que os EUA não vão conseguir crescer no ritmo esperado”, afirmou Bakiskan à Reuters.

Trump pede que o Fed baixe a taxa de juros para buscar estimular um reaquecimento da Economia americana, e consequentemente reforçar seu discurso de que os EUA estão em franco crescimento econômico —durante a campanha eleitoral, Trump prometeu um crescimento econômico nunca visto antes e fazer o país entrar em uma “era de ouro”.

No entanto, o Fed toma suas decisões inteiramente com base em indicadores econômicos e não julga que este é o momento para cortar os juros, segundo o presidente do órgão, Jerome Powell. O presidente dos EUA, por sua vez, criticou Powell diversas vezes e já o chamou de “burro”, “teimoso”, e o acusou de ter motivações políticas.

Após pedir a demissão de Powell diversas vezes, Trump demitiu Lisa Cook. A diretora do Fed, no entanto, disse nesta terça-feira que Trump não tem poder para tirá-la do cargo e garantiu que não pretende renunciar. (Leia mais abaixo)

Desde que retornou à Casa Branca, em janeiro, Trump adota políticas agressivas e que testam os limites dos poderes presidenciais, segundo especialistas. Outros ataques a instituições americanas que o presidente protagonizou incluem:

Diretora do Fed resiste

Montagem mostra Lisa Cook e Donald Trump — Foto: SAUL LOEB and ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

Em uma declaração divulgada na noite de ontem por seu advogado, Abbe David Lowell, ela afirmou que “não há motivo legal” para que Trump a demita do cargo — em uma decisão inédita, desafiando a independência da autoridade monetária norte-americana.

“O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo”, diz o comunicado.

Segundo o advogado de Cook, todas as medidas necessárias para impedir a demissão da dirigente do Fed, chamada por ele de ilegal, serão tomadas.

“Não vou renunciar. Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022.”

Apesar de ser legalmente contestável, o republicano afirmou que a medida passa a ter efeito imediato.

Para afastar Lisa Cook, Trump recorreu a um dispositivo da lei de criação do Federal Reserve que permite a demissão de membros do conselho “por justa causa.

Ele usou essa brecha — considerada juridicamente frágil e com potencial de ameaçar a independência do banco central — alegando que acusações de fraude hipotecária comprometiam a capacidade de Cook de atuar como reguladora financeira.

Trump aumenta pressão sobre o Fed

Cook integra o Conselho de Governadores do Fed, composto por sete membros, e participa do comitê de 12 integrantes responsável por definir a política de juros nos Estados Unidos.

  • Indicada em 2022 pelo então presidente Joe Biden, ela se tornou a primeira mulher negra a assumir o posto.

Até pouco tempo, o alvo principal de suas investidas era Powell. Mas, recentemente, a atenção se voltou para Cook.

Na semana passada, Bill Pulte, diretor da Agência Federal de Financiamento da Habitação, acusou-a de falsificar documentos para obter condições mais vantajosas em hipotecas e afirmou que o caso foi encaminhado ao Departamento de Justiça.

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