Índice
O anúncio da Administração Estatal para Regulação do Mercado (SAMR) ocorre em meio às negociações comerciais entre EUA e China em Madri, nas quais semicondutores — incluindo os produzidos pela Nvidia — devem estar na pauta.
Analistas ouvidos pela Reuters afirmam que o comunicado foi estrategicamente cronometrado para dar mais peso à posição chinesa nas conversas.
“Ambos os lados buscam criar margem de manobra para negociar em melhores condições, mas fazem isso com movimentos muito calculados, conscientes do que está em jogo”, disse Alfredo Montufar-Helu, diretor-geral da consultoria GreenPoint.
“Controles terão consequências”
Segundo Zhengyuan Bo, sócio da Plenum Research, a decisão preliminar da SAMR deve ser vista como resposta à medida do governo Trump, que na sexta-feira incluiu 23 empresas chinesas em uma lista de restrições comerciais dos EUA.
“É um aviso: se os controles de exportação americanos continuarem no mesmo padrão dos últimos anos, haverá consequências, e a China está disposta a impor custos às empresas dos EUA”, afirmou.
A medida pode dificultar os planos do CEO da Nvidia, Jensen Huang, que tem buscado amenizar as tensões entre Washington e Pequim para continuar vendendo versões adaptadas de seus chips no mercado chinês. Só neste ano, Huang visitou a China três vezes para reforçar o compromisso da empresa com o país, que respondeu por US$ 17 bilhões em receita no último ano fiscal, cerca de 13% do total.
As ações da Nvidia caíram 2,1% no pré-mercado nesta segunda-feira.
Investigação em andamento
A SAMR não detalhou como a empresa teria violado a legislação antitruste, mas lembrou que em dezembro abriu uma investigação sobre possíveis infrações. Na época, a iniciativa foi interpretada como retaliação às restrições impostas por Washington ao setor de semicondutores chinês.
O regulador acrescentou que a Nvidia também descumpriu compromissos assumidos na compra da israelense Mellanox Technologies, aprovada em 2020 sob condições.
Entre elas, a de manter o fornecimento de aceleradores de GPU ao mercado chinês. Nos últimos anos, no entanto, a empresa foi obrigada a suspender a venda de seus chips mais avançados por causa dos controles de exportação do governo Biden.
De acordo com a lei antimonopólio chinesa, companhias podem ser multadas em 1% a 10% do faturamento anual. A investigação segue em andamento e a Nvidia ainda não se manifestou.
Crescentes pressões na China
O acesso da China a chips avançados de inteligência artificial é um dos principais pontos de atrito na disputa tecnológica com os EUA.
Apesar das restrições, empresas como Tencent e ByteDance continuam comprando versões modificadas dos chips da Nvidia, como o modelo H20, adaptado para o mercado chinês. Autoridades, porém, já convocaram representantes da empresa para discutir possíveis riscos de segurança.
Para Bo, da Plenum, mesmo que a Nvidia enfrente decisões desfavoráveis na investigação antitruste, o impacto financeiro tende a ser menor do que os esforços de Pequim para desenvolver alternativas nacionais.
“Não se trata de expulsar a Nvidia do país, mas de acelerar a busca por substitutos locais”, avaliou.
Pessoa passa por painel com logomarca da Nvidia na Computex em Taiwan em junho de 2024 — Foto: Ann Wang/Reuters