➡️ Mas, afinal, o tarifaço vai afetar o consumidor brasileiro? Não diretamente. A sobretaxa será paga por empresas dos EUA que comprarem produtos feitos no Brasil. E, para alguns desses itens, encaixados numa lista de exceções, ela será de 10%, e não 50%.
Indiretamente, porém, pode existir um impacto no supermercado. Se os compradores americanos não quiserem pagar a mais pelos alimentos brasileiros, uma queda nas vendas para os EUA poderia afetar os produtores. Por consequência, o tarifaço reforçaria tendências já em andamento nos valores do Brasil.
Em relação à carne, economistas e especialistas ouvidos pelo g1 apontam que o preço pode até cair no início do tarifaço, com uma demanda menor dos EUA. Mas deverá subir depois, devido à redução no abate de animais, o que já era esperado e deve ser intensificado com o tarifaço.
Menos boi para o abate
A carne não deve ficar mais barata no Brasil por causa do tarifaço. Pelo contrário: o preço pode subir, já que o número de abates deve cair no segundo semestre, segundo Wagner Yanaguizawa, especialista em proteína animal do Rabobank.
Essa alta já era esperada: mesmo sem o tarifaço, os pecuaristas já segurariam mais fêmeas para reprodução. Ou seja, elas já não seriam abatidas para o setor de carnes.
Mas uma possível queda nas vendas para os EUA pode fazer com que os produtores também separem menos bois para a engorda e para o abate.
Mas os EUA ficam bem atrás da China, que compra quase metade do que é vendido pelos frigoríficos brasileiros no exterior (veja mais detalhes ao fim da reportagem).
De acordo com Alves, os americanos compram, principalmente, a parte dianteira do boi, usada em hambúrgueres. O Brasil envia as demais partes dos animais para outros destinos. Mas as exportações são uma parte menor: cerca de 80% da carne é consumida dentro no mercado brasileiro.
Yanaguizawa acredita ser possível redirecionar as vendas que iriam para os EUA a outros países, como o Egito, que tem aumentado sua demanda pela proteína.
O Brasil tem uma vantagem: concorrentes como EUA e Austrália também reduziram a produção por problemas sanitários, como doenças.
Segundo Yanaguizawa, o mundo deve ter uma redução da oferta global de carne em 2%.
Mas, antes de os preços subirem, pode haver um curto período de queda para o consumidor brasileiro, aponta o analista do Itaú BBA.
Isso porque a China, principal cliente da exportação, está pressionando para o Brasil baixar seus preços, e isso pode frear temporariamente as exportações, aumentando a oferta interna e, consequentemente, diminuindo o custo para o consumidor brasileiro.
O valor da ração também diminuiu, o que reduz o custo da engorda. Assim, o preço do boi gordo, animal pronto para o abate, caiu 7,21% em um mês, até o dia 29 de julho, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
“Nós vamos ver o boi cair e, lá na frente, ver a carne subir mais ainda”, resume Alves.
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Raio X da exportação — Foto: arte g1
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