Imagens que circulam nas redes sociais mostram que o conjunto de baterias não foi afetado pelo fogo, que se limitou ao interior da cabine do veículo elétrico.
Ao g1, o Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul informou que o fogo começou em uma extensão que não suportava a carga elétrica exigida pelo veículo.
“Essa extensão, provavelmente inadequada, passava pelo interior do veículo e ligava-se ao carregador, que se encontrava perigosamente sobre o estofamento do banco. Devido a uma sobrecarga elétrica, a extensão derreteu e rompeu-se exatamente onde se juntava ao carregador”, afirma a corporação em nota oficial.
Genaro Mariniello da Silva, professor de engenharia elétrica da FMU, explica que o uso da extensão em contato com o estofamento do carro foi um fator importante para o início do incêndio.
“Quando se utiliza uma extensão inadequada ou uma tomada que não está preparada para suportar essa carga, pode ocorrer um superaquecimento dos fios, derretimento dos materiais isolantes e até mesmo um princípio de incêndio. Isso se agrava ainda mais se esses dispositivos estiverem próximos a materiais inflamáveis, como o estofamento de um carro”, diz o professor.
Silva destaca que esse risco também está presente em residências, quando aparelhos de alto consumo, como chapinhas, secadores e aquecedores, são conectados a tomadas sem atenção às normas de segurança.
Procurada, a BYD não se pronunciou sobre o ocorrido.
BYD Dolphin em chamas em Santa Maria — Foto: reprodução
Como carregar um carro elétrico em casa com segurança
Diferente dos eletropostos de alta potência, a recarga de carros elétricos em tomadas domésticas é segura, desde que sejam seguidas as orientações do manual do proprietário.
Segundo o manual do BYD Dolphin, as recomendações são:
- Tensão de 220 volts;
- Corrente de 10 amperes;
- Circuito com aterramento.
Com essas especificações, a potência fornecida ao Dolphin é de 2.200 watts — inferior à de um chuveiro elétrico, por exemplo.
- 🔎 De acordo com dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), um chuveiro elétrico ligado em 220 volts consome, em média, 6.000 watts — o equivalente a 172% mais energia do que o carregador portátil do Dolphin, conforme o manual.
Silva reforça que a principal recomendação é seguir as normas de segurança.
“Essa atenção vale tanto para o uso de eletrodomésticos como micro-ondas, aquecedores e secadores de cabelo quanto, mais recentemente, para o carregamento de veículos elétricos”, afirma o professor.
Entre os demais cuidados citados no manual do Dolphin para esse tipo de recarga estão:
- O cabo não deve estar enrolado, pois isso dificulta a dissipação do calor gerado;
- A temperatura ambiente máxima recomendada é de 50 °C;
- O carregador portátil não deve ser colocado no porta-malas, sob o veículo ou próximo ao pneu;
- Evite derrubar ou pisar no carregador enquanto ele estiver em uso, pois isso compromete a dissipação de calor;
- Não utilize o equipamento de recarga se o fio da tomada estiver frouxo ou com mau contato;
- O uso de adaptadores ou cabos elétricos adicionais não é recomendado.
No caso do BYD Dolphin que pegou fogo em Santa Maria, no entanto, o último item da lista de cuidados divulgada pela marca foi ignorado.
Isso porque, segundo Clemente Gauer, diretor de segurança da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), a extensão ligava o veículo a uma tomada localizada em uma janela do prédio. Além disso, destaca o executivo, outro fator que contribuiu para o incêndio foi o calor, já que os vidros estavam fechados para evitar o furto do adaptador.
“Mesmo em temperaturas moderadas (25 a 30 °C), a radiação solar aquece significativamente as superfícies internas dos veículos, promovendo um efeito estufa que eleva rapidamente a temperatura interna para até 50 °C. Nessas condições, como observado no caso ocorrido em Santa Maria, a probabilidade de combustão espontânea aumenta consideravelmente”, explica Gauer.
Silva, da FMU, diz que os passos ideais para uma carga segura, mesmo em tomada doméstica, são:
- Ter um ponto de recarga exclusivo para o carro;
- Instalar a tomada com a ajuda de um profissional qualificado;
- Utilizar um carregador portátil com proteções integradas.
ABVE destaca a segurança no processo de recarga
O crescimento das vendas de veículos elétricos, por sua vez, também tem levantado o debate sobre a adaptação da infraestrutura de recarga no país. Segundo a ABVE, o Brasil registrava 16.880 pontos públicos de recarga até agosto deste ano.
“À frente da pasta de segurança e como membro do conselho da ABVE, meu ‘alívio’ é técnico: o caso ajuda a desconstruir mitos. Veículos 100% elétricos são seguros; o problema está na recarga fora das normas”, escreveu Gauer em uma publicação em suas redes sociais.
A frota de veículos 100% elétricos e híbridos plug-in no Brasil é de 318.585 unidades, o que representa uma média de quase 19 carros por ponto de recarga. Esses pontos seguem normas de segurança, como aterramento, ausência de tomadas domésticas e estrutura dedicada para o abastecimento elétrico.
São Paulo concentra 28,3% de todos os eletropostos do país, com 4.777 pontos. Já o Rio Grande do Sul, estado onde ocorreu o incêndio no último fim de semana, possui apenas 1.455 pontos de recarga.
A capital, Porto Alegre, é o município com maior número de unidades (288), enquanto Santa Maria conta com 42 pontos — 2,8% do total no estado.