Boulos detalha ‘missão’ dada por Lula para trabalhadores de aplicativo
Uma das principais “missões” dadas pelo presidente Lula (PT) a Guilherme Boulos (PSOL-SP) antes mesmo de assumir a Secretaria-Geral da Presidência vai ser dialogar com a “nova classe trabalhadora” dos aplicativos e construir um caminho para garantir direitos.
Em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (22), Boulos detalhou seus planos, que envolvem remuneração mínima, proteção previdenciária e transparência nos algoritmos, mas com um cuidado: “respeitar um grau de flexibilidade” valorizado pelos próprios trabalhadores.
📱Acesse o canal da Sadi no WhatsApp
Boulos confirmou que Lula lhe deu a tarefa de construir debate com os trabalhadores de aplicativo. Ele insere essa tarefa no contexto de uma mudança no perfil da classe trabalhadora, que se tornou “mais dispersa, difusa, flexível, por plataformas ou trabalhando na informalidade”, o que, segundo ele, desafia a capacidade de mobilização histórica da esquerda.
“Nós temos que responder a esse fenômeno. Parte da minha missão é essa, vamos dialogar com esses trabalhadores, com esses novos trabalhadores, com essas novas periferias”, afirmou. Ele classifica a situação atual desses trabalhadores, como motoristas de Uber e entregadores do iFood, como muitas vezes “precarizada”.
Questionado se defenderia a aplicação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) para a categoria, Boulos disse acreditar em um caminho diferente.
“O caminho é garantir direitos, mas respeitando um grau de flexibilidade no tempo e na relação que esses próprios trabalhadores prezam”, declarou.
Ele detalhou três eixos principais que devem guiar sua atuação no governo, baseados em demandas que ouviu dos próprios trabalhadores e que já constavam em um projeto de lei que ele protocolou como deputado, com apoio de parlamentares de 10 partidos:
Remuneração mínima: Estabelecer uma regra de pagamento mínimo por viagem ou entrega, criticando o modelo atual onde as plataformas ficam com uma parcela “expressiva” do valor sem arcar com custos como manutenção de veículos ou combustível.
Previdência e seguro: Construir uma “alternativa previdenciária” que garanta seguridade não só para a aposentadoria, mas também para o presente, citando o alto risco de acidentes entre entregadores de moto. “Se ele se acidenta, a família dele hoje vai passar fome”, exemplificou.
Transparência do algoritmo: Garantir que os trabalhadores entendam como funcionam os algoritmos que os gerenciam. “Hoje esse trabalhador, eles são dirigidos por algoritmos, mas não há nenhuma transparência de como isso funciona, e é essencial que isso seja feito”, disse.
Boulos adiantou que pretende criar um grupo de trabalho na Secretaria-Geral da Presidência para aprofundar o diálogo com os trabalhadores de aplicativo, atuando em conjunto com o Ministério do Trabalho, onde o ministro Luiz Marinho já tem se dedicado ao tema.
LEIA MAIS
Boulos tem primeiro dia no Planalto e diz que cerimônia de posse será na próxima quarta-feira
Capacidade de mobilização da esquerda
Boulos: perfil do trabalhador e ascensão da direita explicam esquerda menos mobilizada
O deputado atribuiu a aparente menor capacidade de mobilização de rua da esquerda, em comparação com a direita nos últimos anos, a dois fatores principais: uma mudança profunda no perfil da classe trabalhadora e o impacto inicial da ascensão da extrema direita no Brasil e no mundo.
Outra de suas missões será reconectar a esquerda com essa nova base trabalhadora.
Segundo Boulos, a base histórica da esquerda e dos movimentos sociais – a classe trabalhadora das periferias urbanas – mudou.
“Antes, o cara que morava lá no Capão Redondo, aqui em Ceilândia ou na Zona Oeste do Rio de Janeiro tinha, via de regra, um trabalho regular formal, estava muitos deles organizados no sindicato. Isso mudou”, analisou.
O segundo fator, na visão de Boulos, foi a ascensão da extrema direita, que “gerou num primeiro momento, talvez até uma perplexidade do campo progressista, uma dificuldade de responder”.
Apesar do diagnóstico, Boulos acredita que o cenário está mudando. “Esse jogo começou a virar, esses ventos começaram a virar”, afirmou.
Ele citou os recentes atos contra a “PEC da Blindagem” como exemplo. “Vamos lembrar que a maior mobilização de massas feita neste ano no Brasil foi organizada pela esquerda brasileira, pelos movimentos sociais”, disse, embora reconhecendo que foi um movimento amplo da sociedade civil e com forte participação de artistas.
Boulos destacou que, além da pauta contra a PEC, outras bandeiras ganharam força nesses atos, como o fim da escala 6×1, a isenção do Imposto de Renda e a taxação dos super-ricos. “Esse debate já começou a esquentar na rua e vai esquentar ainda mais o ano que vem”, previu.
Jornal de Minas © Todos direitos reservados à Tv Betim Ltda®