Bolsas da Europa caem, com temores por retaliação iraniana após ataque dos EUA; Wall Street passa a subir

Bolsas da Europa caem, com temores por retaliação iraniana após ataque dos EUA; Wall Street passa a subir

Além disso, há receio nos mercados globais de que o Irã faça o bloqueio do Estreito de Ormuz, rota marítima considerada a mais importante do mundo para o transporte de petróleo.

A medida ainda precisa do aval do Conselho Supremo de Segurança Nacional e do aiatolá Khamenei. Mesmo assim, a possibilidade de bloqueio gera preocupação com a oferta global da commodity, afetando os mercados.

O fechamento de Ormuz é visto como uma retaliação do governo iraniano aos ataques dos Estados Unidos contra três instalações nucleares no país, que marcaram a entrada dos norte-americanos na guerra entre Irã e Israel. A ofensiva representou uma nova escalada no conflito no Oriente Médio. (Entenda mais abaixo)

Veja a situação dos índices por volta das 7h40 desta segunda (23), segundo dados da Bloomberg:

Estados Unidos

Os índices de Wall Street, nos Estados Unidos, passaram a operar em alta na tarde desta segunda-feira (23). Perto das 14h30:

  • O S&P 500 tinha alta de 0,15%, aos 5.976,77 pontos.
  • O Nasdaq tinha um avanço de 0,65%, aos 19.574,06 pontos.
  • O Dow Jones tinha ganhos de 0,45%, aos 42.397,87 pontos.

Por lá, investidores seguem à espera da resposta do Irã aos ataques dos EUA às suas instalações nucleares. As preocupações com o possível fechamento do Estreito de Ormuz pelo Irã, uma importante rota de fornecimento de petróleo, seguiam crescentes.

Além das ações do setor de energia, que subiam no pré-mercado, acompanhando a alta nos preços do petróleo bruto, as ações de defesa também tinham alta.

Europa

Os índices acionários europeus, por sua vez, fecharam a sessão desta segunda-feira em queda, em meio à crescente tensão geopolítica depois que os EUA se juntaram a Israel no ataque às instalações nucleares do Irã no fim de semana. Veja abaixo:

  • O FTSE100, de Londres, caiu 0,19%, aos 8.758,04 pontos.
  • O DAX, da Alemanha, recuou 0,35%, aos 23.269,01 pontos.
  • O CAC 40, da França, perdeu 0,69%%, aos 7.537,57 pontos.
  • O Ibex 35, da Espanha, teve baixa de 0,08%, aos 13.839,40 pontos.
  • O FTSE/MIB, de Milão, teve uma desvalorização de 1%, aos 38.840,51 pontos.
  • O PSI20, de Lisboa, caiu 0,47%, aos 7.409,73 pontos.

Ásia

Os índices asiáticos, por sua vez, fecharam mistos nesta segunda-feira.

  • O índice Hang Seng, de Hong Kong, fechou em alta de 0,67%.
  • O Nikkei 225, do Japão, fechou em queda de 0,01%.
  • O Kospi, da Coreia do Sul, fechou em queda de 0,24%.
  • O Nifty 50, da Índia, recuou 0,52%
  • O CSI 1000, da China, fechou em alta de 1,31%.

Petróleo

Os preços do petróleo chegaram a ter alta generalizada no mercado internacional pela manhã de segunda-feira, conforme investidores repercutiam os possíveis efeitos de uma interrupção no fornecimento da commodity em meio à escalada do conflito no Oriente Médio. Depois, no entanto, o sinal inverteu. Perto das 14h30:

  • O barril de petróleo tipo Brent (referência global) caía 4,31%%, cotado a US$ 73,69.
  • O petróleo WTI (referência nos EUA) recuava 4,29%, cotado a US$ 70,67.

O centro das atenções é o Estreito de Ormuz, responsável pelo fluxo de cerca de 20% de todo o petróleo comercializado globalmente. Além disso, a rota marítima é crucial para o transporte de gás natural liquefeito (GNL), com iguais 20% do comércio mundial.

O fechamento da rota pode afetar a oferta da commodity no mercado global, fazendo o preço do barril de petróleo disparar. Há ainda efeitos na inflação: com o petróleo mais caro, sobem os preços de energia e transportes, com reflexos nos custos de alimentos e insumos industriais.

“Ações pontuais que afastem petroleiros fazem mais sentido do que fechar completamente o Estreito de Ormuz, já que isso também interromperia as exportações de petróleo do próprio Irã”, disse à agência Reuters Vivek Dhar, analista de commodities do Commonwealth Bank da Austrália.

“Em um cenário em que o Irã opte por atrapalhar seletivamente o tráfego no estreito, vemos o Brent chegando a pelo menos US$ 100 por barril”, acrescenta.

Mais cedo, o presidente dos EUA, Donald Trump, expressou sua vontade de manter os preços do petróleo baixos, em meio a temores de que as consequências dos ataques dos EUA ao Irã possam causar um aumento no custo da commodity.

“Pessoal, mantenham os preços do petróleo baixos, estou de olho! Vocês estão fazendo o jogo do inimigo, não façam isso”, escreveu Trump em letras maiúsculas em sua plataforma Truth Social.

O republicano também fez outra publicação em seu perfil, dessa vez endereçada ao Departamento de Energia norte-americano: “perfure, baby, perfure”, disse Trump. “Quero dizer, agora mesmo”, completou.

Estreito de Ormuz — Foto: Arte/g1

Alta nos preços

Para o economista André Perfeito, os preços do petróleo podem subir, incialmente, cerca de 20% em caso de fechamento do Estreito de Ormuz, chegando a uma cotação próxima de US$ 92 o barril.

Segundo ele, os preços devem disparar ainda mais caso o conflito se estenda ao longo dos próximos dias. Nesse caso, o economista estima que o barril poderá avançar até 40%, acima de US$ 110. Seria um nível próximo ao pico de 2022, quando se intensificaram os conflitos entre Rússia e Ucrânia.

No início do conflito entre Israel e Irã, analistas do JPMorgan chegaram a afirmar que, no pior cenário, o fechamento do estreito ou uma retaliação por parte dos principais produtores de petróleo da região poderia elevar os preços para a faixa de US$ 120 a US$ 130 por barril.

“A reação vai na direção esperada [no início das negociações desta segunda]. Contudo, há a percepção que o Irã não deve escalar [o conflito] e fechar o Estreito de Ormuz. Se isso for verdade, as perdas devem ser limitadas”, diz Perfeito.

Conflito no Oriente Médio: o papel estratégico do Estreito de Ormuz

‘Artéria’ do trânsito mundial de petróleo

O Estreito de Ormuz conecta o Golfo Pérsico (ao norte) com o Golfo de Omã (ao sul), e “deságua” no Mar da Arábia. Na sua parte mais estreita, a via tem 33 km de largura, com canais de navegação de apenas 3 km em cada direção.

Cerca de 20% de todo o consumo mundial de petróleo passam pela rota. Entre o início de 2022 e maio deste ano, fluíram diariamente pelo local de 17,8 a 20,8 milhões de barris por dia de petróleo bruto, condensado ou combustível, segundo a plataforma de monitoramento marítimo Vortexa.

Membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) como Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque exportam a maior parte do seu petróleo através do estreito, principalmente para a Ásia.

Os Emirados Árabes e a Arábia Saudita buscam rotas alternativas para não depender do estreito. O Catar, um dos maiores exportadores mundiais de gás natural liquefeito, envia quase toda sua produção através da rota marítima.

Segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA, havia cerca de 2,6 milhões de barris por dia de capacidade ociosa nos oleodutos existentes desses países, que poderiam ser usados para contornar Ormuz (em dados de junho do ano passado).

O ataque dos EUA

Os EUA atacaram o Irã no sábado (21). O presidente Donald Trump informou que o país bombardeou três instalações nucleares. Em pronunciamento, o republicano disse que os bombardeios foram de grande precisão e que “ou haverá paz ou tragédia para o Irã”.

“Os EUA fizeram um ataque de alta precisão contra as três principais instalações nucleares do Irã: Fordow, Natanz e Isfahan. Todos guardem esses nomes, porque foi um ataque com o objetivo de destruir a capacidade nuclear iraniana. Para que deixem de ser uma ameaça nuclear e do terror”, disse.

“Ou haverá paz ou haverá tragédia para o Irã. Que cessem os ataques que vimos nos últimos oito dias. Hoje foi o dia mais difícil de todos, e talvez o mais letal. Mas se a paz não vier rápido, nós vamos continuar atacando com precisão e habilidade”, acrescentou.

A entrada dos EUA na guerra aconteceu após uma semana de combates aéreos entre Israel e Irã. Nos últimos dias, Israel já tinha anunciado uma operação para destruir alvos nucleares iranianos. O Irã retaliou com mísseis contra cidades como Tel Aviv, Haifa e Jerusalém.

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