A declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta sexta-feira (1º), de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “pode falar comigo quando quiser”, foi recebida com cautela no Itamaraty.
Entre diplomatas, a avaliação é de que houve um gesto simbólico, mas ainda é cedo para afirmar se há um canal de diálogo político realmente aberto entre os dois líderes.
Para a diplomacia brasileira, Trump abriu a porta, mas ainda é preciso conferir se a porta está mesmo aberta.
Telefonema exige articulação
A fala do presidente americano foi uma resposta à repórter Raquel Krähenbühl, da TV Globo, que o questionou sobre a possibilidade de conversar com Lula. Trump não detalhou se há articulação nesse sentido, mas respondeu: “Ele pode falar comigo quando quiser.”
Apesar da frase, diplomatas brasileiros ponderam que ligações entre chefes de Estado não ocorrem de maneira improvisada. Requerem preparação entre equipes, definição de agenda e acerto de tom.
Contexto: tensão após tarifa e sanções
A declaração ocorre em meio a um momento de tensão na relação entre os dois países. Na quarta-feira (30), Trump assinou uma ordem executiva que impõe uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, alegando práticas do governo Lula que prejudicariam empresas americanas, violariam a liberdade de expressão e afetariam interesses estratégicos dos EUA.
No mesmo dia, o governo americano sancionou o ministro do STF Alexandre de Moraes, com base na Lei Magnitsky, usada contra autoridades estrangeiras acusadas de violar direitos humanos.
As medidas geraram forte reação no governo brasileiro e no Supremo Tribunal Federal. Lula tem buscado canais diplomáticos para reverter a escalada e articular uma reaproximação institucional com Washington.
Itamaraty vê peças se movimentando
Na avaliação de fontes do Itamaraty, a fala de Trump pode sinalizar que as peças estão se movimentando — especialmente após o encontro do chanceler Mauro Vieira com o senador republicano Marco Rubio, na quarta-feira (30), em Washington.
Apesar de não ser possível atribuir diretamente a fala de Trump ao encontro, diplomatas enxergam o movimento como um possível ponto de inflexão após semanas de dificuldade para estabelecer contato com o núcleo político da Casa Branca.
Lula disse que ninguém queria conversar
Em entrevista ao jornal The New York Times, publicada na quarta, o presidente Lula afirmou que ninguém nos EUA “quer conversar” sobre o tarifaço. Segundo ele, diversos ministros brasileiros haviam sido encarregados de buscar interlocução, sem sucesso.
O blog do Gerson Camarotti revelou que, diante das dificuldades, Lula estaria disposto a ligar pessoalmente para Trump, desde que fosse atendido pelo presidente americano.
Agora, com a fala pública de Trump, o gesto pode abrir espaço para uma reaproximação — mas diplomatas reforçam que isso ainda depende de articulação prévia e sinalizações mais concretas da Casa Branca.
Após fala de Trump, Itamaraty avalia se porta está mesmo aberta para ligação de Lula
Após fala de Trump, Itamaraty avalia se porta está mesmo aberta para ligação de Lula