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“Você não encontra um fornecedor do tamanho do Brasil, mas o produto é substituível na prateleira”, afirma o diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto.

Atualmente, os americanos pagam uma tarifa fixa de US$ 415 (equivalente a R$ 2.296,32) por tonelada do suco brasileiro e mais uma taxa adicional de 10% (cerca de US$ 308, ou R$ 1.704,26 por tonelada), determinada por Trump em abril.

O suco de laranja já está caro nos EUA, mesmo sem o repasse dos 10% da indústria para os consumidores. A bebida tem sido trocada por outras mais baratas, como refrigerantes e água saborizada.

Para o diretor da CitrusBR, com o aumento da taxa para 50%, esse movimento pode se intensificar — deixando o produto brasileiro de lado.

A maior parte do suco produzido no Brasil vai para o mercado externo. Os americanos compram 41,7% do volume exportado, perdendo apenas para a União Europeia, com 52%.

Quase metade dos 3 milhões de litros de suco consumidos por ano nos EUA vem do Brasil.

Para o Brasil, perder esse mercado significaria um prejuízo de R$ 1,1 bilhão por ano, segundo a Consultoria Cogo, especializada em agronegócios.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse nesta quinta-feira (10) que conversou com representantes dos principais setores, incluindo o de suco de laranja, sobre a possibilidade de ampliar mercados.

Mas o diretor da Citrus BR acha que é difícil achar um substituto para EUA. Isso porque ampliar a venda para outro mercado, como o da União Europeia, poderia derrubar os preços da comercialização. Ele também acha que não existam outros mercados para serem explorados.

Pior colheita da laranja em 40 anos nos EUA

Os EUA tornaram-se mais dependentes das importações de suco de laranja nos últimos anos devido a um declínio acentuado na produção doméstica, por causa de furacões, períodos de temperaturas muito baixas e da doença greening.

O greening afeta os pomares e diminui a qualidade e a produtividade da fruta. Ele é causado por uma bactéria, que, por sua vez, é disseminada por um inseto.

O estado da Flórida é o mais afetado. Ele representa 90% do suco de laranja americano. Os prejuízos por lá causaram uma retração de 28% na produção do país na safra 2024/2025.

Os preços do suco de laranja vêm enfrentando altas seguidas. A lata de 473 ml atingiu o preço recorde de US$ 4,49 em fevereiro deste ano (equivalente a R$ 24,84).

E a situação pode piorar: a próxima colheita deve ser a menor desde 1986, quando começou a série histórica do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Sem os brasileiros, o diretor da CitrusBR acredita não haver outro país que possa suprir a necessidade dos norte-americanos. Apesar disso, o México concorre com o Brasil pelo mercado, aponta o Itaú BBA.

Por outro lado, produção no Brasil cresce

Apesar de o Brasil também ter sido atingido pelo greening, o avanço da doença diminuiu nesta safra e o clima melhorou, o que deve resultar também em frutas de melhor qualidade.

O Brasil deve responder por cerca de 70% da produção mundial de suco neste ano, segundo o Itaú BBA. Com isso, vai recuperar parte dos estoques, que são os menores das últimas quatro décadas.

O declínio nas safras anteriores fez com que até mesmo frutas de qualidade inferior fossem usadas no processamento, aponta o Itaú BBA.

Com a reposição e sem o mercado americano, o Brasil pode não ter para onde escoar tanto suco.

“É muito ruim. É um efeito que vem para toda a cadeia. Pega as indústrias, pega o produtor, pega todo mundo. Ninguém está a salvo dos efeitos disto”, afirma Netto.

Infográfico – Entenda taxa de 50% anunciada por Trump ao Brasil e a relação econômica com os EUA. — Foto: Arte/g1

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