Vírus da Covid-19 altera atividade cerebral a longo prazo após infecção, mostra estudo

Vírus da Covid-19 altera atividade cerebral a longo prazo após infecção, mostra estudo


Vírus da Covid-19 altera atividade cerebral a longo prazo após infecção, mostra estudo
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Um estudo realizado no Instituto Pasteur, em Paris, revelou que o vírus SARS-CoV-2, além de atingir o cérebro, pode permanecer ativo no tronco cerebral por até 80 dias após a infecção. A descoberta, feita pelo pesquisador brasileiro Guilherme Dias de Melo e uma equipe de cientistas do instituto, foi publicada no final de julho na revista científica Nature Communications.
A presença do vírus da Covid-19 no cérebro também está associada a sinais de depressão, distúrbios de memória e ansiedade. O estudo identificou alterações em mecanismos cerebrais relacionados à dopamina, neurotransmissor envolvido em doenças neurodegenerativas como o Mal de Parkinson. 
Segundo o cientista, a infecção pode causar uma desregulação metabólica com mecanismos semelhantes aos observados em certas disfunções cerebrais crônicas. A reportagem da RFI  Brasil foi até o Instituto Pasteur conversar com o pesquisador brasileiro, que se dedica ao estudo, em modelos animais e celulares, dos mecanismos que podem levar ao desenvolvimento da Covid longa. 
“O vírus persiste no cérebro por bastante tempo e continua a contaminá-lo. Ele infecta várias células e altera o metabolismo e o funcionamento dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina, além de afetar enzimas, que parecem estar reduzidas. Todo o funcionamento desse sistema é comprometido durante a infecção”, explica Guilherme. 
De acordo com o pesquisador, o SARS-CoV-2 entra pelas vias olfativas e atinge o sistema respiratório. “Na cavidade nasal, ele infecta neurônios olfatórios, que são responsáveis por detectar cheiros”, diz, ressaltando que essa é a principal porta de entrada do vírus no cérebro. 
O estudo foi realizado com hamsters dourados, que se contaminam naturalmente pelo SARS-CoV-2 e possuem o mesmo receptor que os humanos. Uma das conclusões é que os sintomas persistiam por várias semanas após a infecção. 
Estudo demonstra sintomas relatados por pacientes “Fizemos um estudo de longo prazo, 10 semanas após o fim da fase aguda. E vimos que, durante todo esse tempo, os animais apresentavam sintomas, não os respiratórios clássicos da Covid-19, mas relacionados ao sistema nervoso central, como ansiedade e perda de memória. Mesmo após 80 dias, o vírus ainda estava presente.” 
Segundo Guilherme, um dos objetivos da pesquisa foi identificar os mecanismos da Covid longa e demonstrar a existência de sintomas relacionados ao vírus, relatados por pacientes. Muitos deles já enfrentaram o ceticismo dos médicos e da família ao associá-los a uma contaminação pelo SARS-CoV-2.
“Descrevemos, em um modelo completamente independente do humano, que a Covid longa existe. Com os animais de laboratório, precisamos realizar testes específicos para avaliar sintomas específicos. Fizemos testes para ansiedade, depressão e perda de memória, mas não para cansaço ou outras manifestações clínicas que algumas pessoas podem apresentar”, ressalta.
Sintomas variados
“Na Covid longa, cada paciente apresenta sintomas diferentes, então nos concentramos nos que estão relacionados à nossa linha de pesquisa. Nosso objetivo, daqui para frente, é entender ainda mais profundamente essa disfunção do sistema nervoso central e encontrar biomarcadores ou moléculas que possam ser considerados alvos terapêuticos”, conclui. 
O pesquisador brasileiro também alerta para a queda na taxa de vacinação, que pode levar ao aumento de casos com sintomas persistentes. “Mesmo que a circulação global esteja baixa, o vírus ainda está presente”, lembra. “Não sabemos como essa doença continuará evoluindo.”
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