Por que ações da Petrobras não decolaram após aval sobre Foz do Amazonas

Por que ações da Petrobras não decolaram após aval sobre Foz do Amazonas

A região é vista como uma das novas fronteiras de exploração de petróleo e gás no Brasil, com potencial para se tornar um novo “pré-sal” e capacidade estimada de até 10 bilhões de barris, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME). (leia mais abaixo)

Mesmo com o avanço no tema, as ações ordinárias da petroleira (PETR3) recuaram 0,54%, enquanto as preferenciais (PETR4) tiveram leve alta de 0,13% na bolsa brasileira.

Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que, embora a medida represente um avanço estratégico com foco no longo prazo, o mercado reagiu com pouca empolgação porque já esperava a decisão. Além disso, fatores externos continuaram pressionando as ações da Petrobras.

Um deles é a queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional. A cotação atingiu o menor nível em meses, pressionada pelo excesso de oferta e pela redução das tensões em conflitos como Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas. Nesta segunda-feira (20), o Brent foi negociado a US$ 60,90.

O economista Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), afirma que a expectativa de um petróleo ainda mais barato em 2026 ajudou a frear o ânimo do mercado.

“Demorou para sair a licença do Ibama para perfurar o poço exploratório na Foz do Amazonas. Quando saiu, o mercado já apontava para uma queda no preço do barril, com uma média prevista de US$ 50 em 2026. Isso vai diminuir a receita da empresa”, diz Pires.

“E como 2026 é ano eleitoral, o entendimento é que o governo pode tentar usar a Petrobras politicamente — quer que ela invista em fertilizantes, estaleiros ou distribuidoras de GLP. Por isso, hoje a ação não reagiu bem.”

Infográfico mostra o local em que a Petrobras vai explorar petróleo na bacia da Foz do Amazonas. — Foto: Arte/g1

Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, destaca que o ânimo dos investidores foi mais moderado, principalmente, porque a aprovação já era esperada.

Por outro lado, há a expectativa de que a área a ser explorada tenha características semelhantes às encontradas na Guiana e, possivelmente, no Suriname, o que pode ser “muito positivo” para a Petrobras. A Guiana, por exemplo, tem vivido um boom petrolífero como nunca na história.

“Mas estamos falando de um processo. O que a Petrobras tem hoje é apenas uma licença para realizar a pesquisa. Essa primeira fase ainda não envolve a extração de petróleo propriamente dita”, explica.

“Então, será feita a pesquisa para verificar se há presença de hidrocarbonetos, entender as características geológicas da região e avaliar se há, de fato, proximidade com os reservatórios encontrados na Guiana.”

Segundo especialistas, ainda não é possível afirmar com precisão quais serão os ganhos em royalties — pagamentos feitos pela exploração de recursos naturais — com a nova exploração.

A perfuração pela Petrobras está prevista para começar de forma imediata e deve durar cerca de cinco meses. Os efeitos concretos da iniciativa, portanto, só poderão ser observados após esse período, diz Adriano Pires, do CBIE.

  • 🔎 Na prática, a licença concedida pelo Ibama autoriza a realização de atividades de perfuração e pesquisa. A proposta é que a empresa realize estudos para verificar se realmente existe potencial de ocorrência de petróleo na região. Caso a presença de petróleo seja confirmada, será necessário obter uma nova licença específica para a extração.

Impacto estimado

O governo estima que o novo “pré-sal” teria reservas que permitiriam explorar 1,1 milhão de barris de petróleo por dia. É mais do que a capacidade dos dois principais campos da Bacia de Santos: Tupi, com cerca de 850 mil barris por dia, e Búzios, que ultrapassou os 900 mil.

Segundo o MME, com isso, seria possível retirar até 10 bilhões de barris de petróleo da Foz do Amazonas. Atualmente, o Brasil tem uma reserva comprovada de 16,8 bilhões de barris, o que seria suficiente para manter o país sem precisar comprar petróleo de outros países até 2030.

“Se for encontrado, de fato, muito petróleo, estados e municípios poderão se beneficiar mais do que no modelo do pré-sal, cuja arrecadação é centralizada na União. Nesse novo caso, pode ser adotado o modelo de concessão, com maior repasse direto aos entes locais”, diz Pires, do CBIE.

O CEO da Gravus Capital, Ricardo Trevisan Gallo, vê com otimismo a aprovação da perfuração exploratória, ao reconhecer o potencial transformador da Margem Equatorial — onde se localiza a Foz do Amazonas — tanto para a diversificação do portfólio da Petrobras quanto para o fortalecimento da economia brasileira.

“No entanto, é fundamental que os investidores adotem uma visão de longo prazo, entendendo que eventuais efeitos significativos sobre as receitas e a produção da companhia só devem começar a se concretizar a partir de 2030”, pondera.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, o desenvolvimento da Margem Equatorial pode atrair investimentos de US$ 56 bilhões, gerar cerca de 350 mil empregos e proporcionar uma arrecadação estatal estimada em US$ 200 bilhões ao longo do ciclo produtivo.

Ambientalistas, por outro lado, criticaram a permissão para exploração. (leia mais abaixo)

Edifício-sede da Petrobras, no centro do Rio — Foto: Marcos Serra Lima/g1

Entenda a licença do Ibama

A Petrobras recebeu nesta segunda-feira a licença de operação do Ibama para perfurar um poço exploratório em águas profundas na região da Foz do Amazonas.

Segundo o Ibama, a permissão foi concedida após uma série de aperfeiçoamentos no projeto da Petrobras. A empresa disse que comprovou a “robustez de toda a estrutura de proteção ao meio ambiente” que será usada na perfuração.

Além disso, a Petrobras afirma que novas fronteiras de exploração são importantes para “assegurar a segurança energética do país e os recursos necessários para a transição energética justa”.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, comemorou a decisão e disse que a exploração da Margem Equatorial é o “futuro da soberania energética”.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), afirmou que a licença mostra “que é possível conciliar crescimento econômico e preservação ambiental, garantindo que os benefícios dessa atividade cheguem às populações locais e fortaleçam a soberania energética nacional”.

Onde será a exploração?

O bloco FZA-M-059 fica a cerca de 500 km da foz do Rio Amazonas e 175 km da costa, em uma região de mar aberto. A perfuração deve começar imediatamente e tem duração prevista de cinco meses. Veja abaixo.

Área da Foz do Amazonas — Foto: Arte/g1

Exploração antes da produção

Nesta fase, não há produção de petróleo — trata-se exclusivamente de pesquisa exploratória. Apesar disso, essa etapa é vista como uma derrota para aqueles que eram contra a exploração na região.

A licença para exploração encerra um processo que durou mais de uma década: o bloco foi concedido em 2013 e o processo de licenciamento ambiental do bloco 59 começou em abril de 2014.

Em agosto, a empresa realizou um simulado de emergência supervisionado pelo Ibama, etapa final para comprovar a capacidade de resposta e segurança da operação.

Próximas etapas

Agora, antes de a estatal produzir petróleo na Foz do Amazonas, algumas etapas precisam ser cumpridas, como:

  • constatar que há petróleo em volume suficiente que justifique o investimento em produção;
  • declarar a comercialidade da área, o que dá início à fase de desenvolvimento do campo;
  • ter o licenciamento ambiental para a atividade de produção aprovado pelo Ibama.

André Trigueiro: Brasil vive ‘contradição’ com autorização para pesquisas de petróleo na Foz do Amazonas

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