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Por que a morte de Juliana Marins tocou tanto o Brasil? Entenda o ‘luto coletivo’ e como ele nos afeta

por Redação
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Psicólogos descrevem o fenômeno da dor compartilhada, explicam como os brasileiros costumam encará-lo de forma intensa e solidária, e como redes sociais criam ‘velórios públicos digitais’ com este sentimento. ‘Amo muito vocês. Isso faz eu não ter medo’: mãe de Juliana Marins mostra mensagem de desp
A morte de Juliana Marins após cair de um penhasco levou a uma comoção nacional. Da mesma forma, as tragédias de Brumadinho, em 2019, e a do Rio Grande do Sul, no ano passado, foram momentos em que o povo brasileiro se uniu na dor. E quem não se lembra das reações às mortes de Cristiano Araújo e Marília Mendonça?
Psicólogos classificam essa reação como “luto coletivo”. “Acontece quando uma perda afeta um grande número de pessoas, como uma comunidade, uma cidade ou um país”, explica a psicóloga Milena Aragão.
👨‍🎓 Milena é especialista em tanatologia, campo da medicina e da psicologia que estuda os processos relacionados à morte.
“O luto coletivo não é a soma de lutos individuais. É um fenômeno que todo mundo sente junto, ao mesmo tempo, que mexe com a identidade, com o senso de pertencimento do grupo”, ela acrescenta.
Ele funciona como um eco da perda individual: mesmo sem conhecer a vítima, muitas pessoas compartilham a dor e o sofrimento.
🤝O luto coletivo é intensificado pelas trocas emocionais entre as pessoas.
“O que um sente é amplificado pelo que o outro expressa. A perda pode ser incorporada à identidade do grupo”, diz o psicólogo Fred Mattos.
Casos como o de Juliana Marins, Marília Mendonça, Cristiano Araújo e do menino João Miguel são exemplos de acontecimentos que causaram comoção nacional.
Montagem/g1
Como nasce o luto coletivo?
O luto coletivo é estimulado por fatores como:
cobertura da mídia,
homenagens públicas,
o impacto das redes sociais.
Esses canais ampliam as reações e aumentam o alcance da dor compartilhada.
Ele costuma aparecer em situações de perdas significativas, como as tragédias que mobilizam valores coletivos, como acidentes aéreos, mortes de figuras públicas queridas, eventos naturais devastadores ou crimes brutais.
“São situações que rompem com a expectativa de segurança ou continuidade da vida e geram um impacto coletivo porque confrontam toda a sociedade com a vulnerabilidade humana”, diz Fred.
Milena lembra que, após a morte de Marília Mendonça, recebeu mensagens de pessoas tentando entender por que estavam tão abaladas, mesmo sem nunca terem tido contato com a cantora. “Pediam para eu explicar o que elas estavam sentindo”, comenta.
Por que a morte de Juliana causou tanta comoção?
Equipes na Indonésia tentam resgatar corpo de Juliana Marins
Reprodução/redes sociais
O caso da brasileira, que morreu depois de uma queda em um passeio turístico, é um exemplo de tragédia pessoal, que não só atingiu a família, mas também todos que acompanharam o desaparecimento, as imagens de drone ainda viva, as tentativas de resgate e a constatação da morte.
Segundo Milena, a dimensão da história, a quantidade de informações sobre o caso e a vivência da história de Juliana ajudou a nos conectar e, por isso, nos levar ao luto coletivo.
“A primeira reflexão é o quanto nos identificamos com Juliana. Ela era filha de alguém e irmã, que estava na internet nos mobilizando, nos convidando a entrar no universo dela, a sentir, se solidarizar, empatizar com ela”, comenta Milena.
Segundo Fred, casos como o da brasileira acionam vários gatilhos emocionais:
juventude interrompida,
talento em ascensão,
vulnerabilidade humana,
sensação de injustiça.
Quando alguém morre “cedo demais”, o inconsciente coletivo se mobiliza com um sentimento de luto simbólico.
“São mortes que ferem a fantasia de controle da vida — e nos lembram, de forma dura, que ninguém está imune ao acaso, não importa o quão rico ou famoso seja”, diz.
O luto coletivo no Brasil
Além disso, o brasileiro costuma se envolver emocionalmente por acontecimentos trágicos.
“Somos intensos, expressivos, nos expomos emocionalmente de forma muito intensa. A gente expõe a dor publicamente e isso leva a uma grande mobilização simbólica”, explica Aroldo Escudeiro, coordenador da Rede Nacional de Tanatologia.
Por isso, é comum vermos rituais, homenagens e campanhas de arrecadação após tragédias.
Velório de Marília Mendonça
REUTERS/Ueslei Marcelino
O papel das redes sociais
Além da empatia gerada pela história, as redes sociais ampliam o alcance das emoções. Juliana também representava um ideal para muitas pessoas: o de uma mulher corajosa, que viajava sozinha, encarando desafios e vivendo experiências que tanta gente gostaria de viver.
“Ela era uma jovem com sonhos arrojados e as redes sociais reforçam esse vínculo emocional dos indivíduos com o evento. Elas criam uma sensação de intimidade. Além disso, a exposição estimula ou reativa perdas não trabalhadas ou mal elaboradas por muitas pessoas”, diz Aroldo.
Além de espalhar emoção, as redes também são espaços para celebrar a pessoa ou a comunidade em casos de tragédias.
“Elas funcionam como grandes velórios públicos digitais, criam espaços para expressar tristeza, compartilhar memórias e construir narrativas coletivas de despedida”, diz Fred.
Fred alerta que essa exposição pode ajudar, mas também tem riscos. “Pode haver superexposição da dor ou até uma competição por sofrimento, o que dificulta uma elaboração mais genuína do luto.”
Milena destaca que a empatia nas redes sociais acontece de forma muito rápida e intensa. “A exposição constante a postagens, notícias e comentários muito tristes pode gerar uma sobrecarga emocional, e a pessoa pode não estar preparada para lidar com isso, podendo entrar em exaustão”, diz.
A psicóloga explica que sentimentos como tristeza profunda, ansiedade, culpa, raiva e impotência são comuns no processo de luto. No entanto, quando esses sintomas parecem intensos demais ou não passam com o tempo, é importante buscar ajuda.
“Ficar preso nos pensamentos sobre a morte de forma repetitiva indica que o luto precisa ser melhor elaborado”, afirma. É essencial encontrar formas saudáveis de lidar com a perda. “É preciso ter lugar para a lembrança, para realizar atividades e rituais que honrem a memória das vítimas”, finaliza.

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