O que pode acontecer no corpo de quem leva o fisiculturismo além do limite da prática saudável?

O que pode acontecer no corpo de quem leva o fisiculturismo além do limite da prática saudável?


Morre Kadu Santos, fisiculturista multicampeão do RS, aos 31 anos
No início desta semana, o fisiculturista Ricardo Nolasco dos Santos, conhecido como Kadu Santos, morreu no Rio Grande do Sul. Apesar da causa da morte não ter sido informada, o caso não é isolado.
Nos últimos meses, o g1 noticiou diversas mortes de praticantes dessa modalidade. Em alguns casos, o uso de anabolizantes levou a complicações. Em outros, o falecimento aconteceu por conta de problemas cardíacos.
De acordo com os especialistas, a prática pode ser realizada de maneira saudável e não necessariamente leva a consequências prejudiciais para o corpo.
Mas também é fato que o fisiculturismo é um dos exercícios que mais exige do organismo e coloca o corpo à prova.
Campeonato de fisiculturismo.
Reprodução/TV Globo
“Para chegar a um físico de competição, o atleta passa por fases de treino intenso, cuidados alimentares gigantesco e, muitas vezes, pouca recuperação”, analisa o endocrinologista e médico do esporte, Clayton Macedo.
O médico, que também é diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), pontua que o treinamento excessivo altera a produção hormonal, principalmente do cortisol, hormônios sexuais e tireoidianos – quadro que pode ser muito agravado pelo uso de esteroides anabolizantes.
👉Em resumo, os especialistas explicam que:
O fisiculturismo pode ser realizado de forma saudável se for uma prática acompanhada por profissionais, evitar o uso de substâncias proibidas e focar no equilíbrio.
O uso de anabolizantes e práticas como desidratação e corte de sódio são os principais responsáveis por levar a morte de atletas dessa modalidade.
Os riscos para aqueles que não praticam de maneira responsável vão desde quedas de pressão até trombose e morte súbita.
Na reportagem abaixo, você entende melhor cada um desses pontos.
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Cuidados para a prática saudável
Tendo como objetivo a evolução e definição muscular de maneira simétrica, o fisiculturismo costuma exigir ações extremas para atingir o corpo desejado.
Nesse processo, os três pilares principais – e que devem ser feitos de maneira equilibrada para que a modalidade seja saudável – são:
🏋🏻‍♂️Treino
Precisa ser estruturado, com fases de ganho de massa e fases de definição muscular.
Átila Alexandre, professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP de Ribeirão Preto, explica que o treino é o estressante que vai gerar o desenvolvimento muscular.
Mas, para que isso aconteça, é necessário que o músculo se recupere desse pequeno processo inflamatório.
“Não adianta treinar até a exaustão todos os dias. O músculo cresce enquanto descansa”, alerta Macedo.
🥗Dieta
A alimentação é um ponto essencial para o fisiculturista, com uma dieta que deve ser calculada com precisão.
O atleta deve consumir muitas fontes de proteínas, como peixe, ovo, frango e laticínios, e vai ajustando a quantidade de carboidratos conforme o tipo de treino.
Na fase de definição, por exemplo, a dieta costuma ser mais restrita, com o corpo recebendo menos energia. Mas os especialistas lembram que esse processo precisa ser feito de forma gradual, sempre acompanhado por um nutricionista.
🛌🏻Descanso
Muitas vezes ignorado, o descanso é um ingrediente fundamental para a evolução dentro do fisiculturismo.
“Dormir bem, controlar o estresse e respeitar os dias de recuperação são fundamentais para que o corpo realmente se fortaleça”, recomenda Clayton.
Além de balancear corretamente esses pontos ao longo do processo de ganha de massa e definição muscular, alguns outros cuidados para garantir a integridade do organismo.
➡️Entre os principais, estão:
Realizar exames periódicos de sangue e coração
Ter orientação médica e nutricional para casa fase do treino
Evitar o uso de substâncias proibidas pelo Conselho Federal de Medicina e pela Anvisa para fins estéticos e de performance
Manter a hidratação adequada
Átila ainda comenta que o respeito à genética de cada um também é muito importante para a modalidade.
“As pessoas têm genéticas diferentes e, por isso, serão capazes de atingir resultados diferentes. Existe um limite na genéticau, mas se a pessoa souber administrar em variáveis de treino, alimentação e sono, ela pode chegar em um resultado bem satisfatório”, afirma.
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Anabolizantes e o risco de desidratação
Para além do estresse a que o corpo é submetido no fisiculturismo, com treinos muito intensos e dietas restritas, os especialistas pontuam que o uso de anabolizantes está entre os principais riscos para quem compete.
Átila alerta que a utilização de hormônios sintéticos contribui para o desequilíbrio do organismo.
“O corpo é muito inteligente e trabalha com o mecanismo de feedback. A partir do momento que ele entende que precisa ter uma quantidade de testosterona circulando, por exemplo, […] e detecta a testosterna injetada, ele interpreta que pode parar de produzir”, explica.
Há alguns campeonatos onde o uso dessas substâncias é proibido e testado. Mas, de maneira geral, no alto rendimento o uso é muito comum e perigoso.
Clayton explica que essas drogas prometem acelerar o ganho de músculo e reduzir o percentual de gordura, mas o preço que se paga por isso é alto.
🚨Elas causam diversos problemas e em diferentes partes do organismo:
Para o coração, aumentam o risco de infarto, AVC, embolia, morte súbita, arritmia e hipertensão.
Para o fígado e rins, podem causar inflamações graves, insuficiência e até tumores.
Para os hormônios, o corpo para de produzir testosterona de forma natural, o que leva à infertilidade e impotência.
Para o humor, aumentam agressividade, irritação e depressão.
Em mulheres, podem causar voz grossa, calvície, aumento do clitóris, pelos, acne, alterações menstruais e infertilidade.
“Enfatizo: não existe dose segura de esteroides anabolizantes, para crescer músculo no nível do fisiculturismo as doses precisam ser literalmente cavalares e principalmente, não existe acompanhamento médico que garanta segurança para o uso dessas substâncias”, alerta o médico.
Outra prática muito comum na modalidade e que também podem trazer riscos é o corte de água e sal antes das competições. A ideia é parecer mais “seco” no palco.
⚠️Mas, uma vez que o corpo depende do equilíbrio de água e sais minerais para o bom funcionamento do coração e dos músculos, isso pode causar problemas como arritmia, desmaios, queda de pressão e, em casos mais graves, trombose, problemas renais e até morte súbita.
Disciplina e controle dos riscos
Ainda que possa ser feito de maneira saudável, os médicos ponderam que os riscos são reais para todo o organismo, tendem a ser imprevisíveis e podem ser fatais.
“O fisiculturismo exige doses impressionantes de disciplina e controle do corpo, mas precisa ser praticado com ciência e responsabilidade”, comenta Clayton.
Além de equilibrar treino, alimentação e descanso, evitar substâncias químicas e estratégias radicais com o objetivo de acelerar processos dentro da prática é fundamental para que, a longo prazo, a modalidade seja sustentável.

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