Há dores que não aparecem em exames. Há batalhas que não deixam cicatrizes no corpo, mas esgotam a alma todos os dias.
E são justamente essas dores silenciosas, invisíveis, mas devastadoras que o INSS ainda insiste em não enxergar com clareza.
Falamos da fibromialgia, da depressão crônica, do autismo leve, dos transtornos de ansiedade e de tantas outras condições que tiram a capacidade de trabalhar, conviver e até sonhar… mas que raramente recebem o devido reconhecimento nos processos administrativos e perícias médicas, mesmo tendo sido reconhecido recentemente a fibromialgia pelo o INSS uma doença.
A burocracia que ignora o sofrimento
O segurado chega ao INSS com laudos, receitas, relatórios, às vezes carregando anos de tentativas frustradas.
E, mesmo assim, ouve: “você tem condições de exercer atividade laboral”.
Essa frase, fria e repetida, virou o símbolo da indiferença institucional diante do sofrimento invisível.
Enquanto isso, o trabalhador continua lutando contra o próprio corpo, a própria mente, e uma máquina que parece feita para duvidar da dor humana.
O problema é estrutural.
Os critérios de avaliação do INSS ainda são excessivamente biomédicos, centrados em “provas objetivas” exames, imagens, números como se toda limitação fosse visível.
Mas a dor da fibromialgia não se mede em miligramas.
A crise de pânico não sai na tomografia.
O esgotamento mental não aparece no raio X.
É como se o sistema ainda vivesse preso no século passado, quando o sofrimento psíquico era visto como fraqueza, e não como enfermidade.
O papel do advogado previdenciário
Cabe ao advogado previdenciário romper esse silêncio.
Nosso papel vai além de peticionar: é traduzir a dor do cliente em linguagem jurídica, transformar relatos em provas, e fazer o INSS e, se preciso, o Judiciário enxergar o que está diante dos olhos, mas o sistema finge não ver.
A defesa técnica deve ser sensível, mas firme.
Mostrar a incapacidade funcional, o histórico médico contínuo, a rotina limitada.
Porque, muitas vezes, o que falta ao processo não é laudo é empatia.
Um novo olhar é urgente.
O Brasil envelhece, adoece e silencia.
E, enquanto a perícia continuar a julgar apenas o que pode ser tocado, milhares de pessoas continuarão invisíveis dentro de um sistema que nasceu para protegê-las.
Reconhecer as deficiências ocultas é mais do que garantir benefício.
É garantir dignidade, cidadania e justiça social.
Reflexão final
E ai leitores quantas vidas o Estado ainda vai ignorar só porque a dor não aparece no espelho?
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Por: Dra. Ingrid Dialhane
Advogada Previdenciária