A imunoterapia é uma aliada poderosa no tratamento de pacientes com câncer
Revista Abrale On-line
Um novo passo rumo à medicina personalizada no combate ao câncer está mais próximo. Pesquisadores desenvolveram uma plataforma de inteligência artificial (IA) capaz de projetar, em laboratório, proteínas sob medida que reprogramam o sistema imunológico para atacar apenas as células tumorais.
A descoberta, publicada na revista Science, tem potencial para acelerar e tornar mais preciso o desenvolvimento de imunoterapias, com aplicações personalizadas para cada tipo de câncer — e até para cada paciente.
A nova tecnologia foi criada por cientistas da Universidade Técnica da Dinamarca (DTU) em parceria com o Scripps Research Institute, nos Estados Unidos. Segundo os autores, o sistema funciona como se fosse um novo “conjunto de olhos” para as células T — responsáveis por identificar e destruir ameaças ao organismo.
“Estamos essencialmente criando um novo conjunto de olhos para o sistema imunológico. A IA nos permite projetar chaves moleculares capazes de guiar as células de defesa diretamente até o câncer, em um tempo recorde”, afirma o professor Timothy P. Jenkins, da DTU, um dos líderes do estudo.
Como funciona a tecnologia
Em vez de depender de um processo longo e complexo de identificação de receptores naturais nas células T — algo que pode levar anos — a plataforma utiliza IA para projetar pequenas proteínas, chamadas miniligantes, que se ligam a alvos específicos nas células tumorais. Essas moléculas, chamadas pMHCs, funcionam como “placas de identificação” nas células do corpo.
Ao modificar geneticamente as células T para reconhecerem essas placas nas células doentes, os cientistas criaram uma nova forma de imunoterapia. O produto dessa engenharia recebeu o nome de células IMPAC-T (sigla em inglês para “células T adaptadas com miniligantes projetados por IA”).
Em testes de laboratório, os IMPAC-Ts foram eficazes contra um alvo conhecido, o NY-ESO-1 — um marcador presente em diversos tipos de câncer. Além disso, os pesquisadores aplicaram a técnica para desenvolver ligantes personalizados para um paciente com melanoma metastático, mostrando que a abordagem também pode ser adaptada a casos individuais.
Segurança antes de tudo
Um diferencial importante do método é o uso da IA também para prever riscos. Antes de testar qualquer composto em laboratório, os miniligantes passam por uma triagem virtual para verificar se poderiam se ligar a células saudáveis — o que reduziria a eficácia do tratamento e aumentaria o risco de efeitos colaterais.
“A precisão no tratamento do câncer é crucial. Com essa verificação de segurança digital, conseguimos descartar, ainda na fase de design, moléculas que poderiam causar danos”, explica a professora Sine Reker Hadrup, coautora da pesquisa.
PRÓXIMOS PASSOS:
Embora os resultados sejam promissores, a equipe científica estima que ainda levará cerca de cinco anos até que os primeiros testes clínicos com humanos sejam iniciados. Quando estiver pronto para uso médico, o tratamento seguirá um processo semelhante ao das terapias com células CAR-T, hoje aplicadas a pacientes com leucemias e linfomas.
Funciona assim: o sangue do paciente é coletado, as células T são isoladas e modificadas em laboratório com os miniligantes criados pela IA. Depois, essas células reprogramadas são devolvidas ao corpo do paciente, onde passam a funcionar como “mísseis de precisão” contra o câncer.
car-t
Hemocentro de Ribeirão Preto (USP)/arte g1
Para os pesquisadores, essa abordagem tem potencial para transformar o tratamento oncológico, tornando-o mais rápido, preciso e personalizado — tudo isso com mais segurança desde os primeiros passos do desenvolvimento.
Inca estima 40 mil novos casos de câncer de intestino em 2025 no Brasil
Inteligência artificial projeta ‘mísseis’ do sistema imunológico para atacar o câncer com precisão
Inteligência artificial projeta ‘mísseis’ do sistema imunológico para atacar o câncer com precisão