Em palestra realizada na Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC), em São Paulo, Galípolo afirmou que esse período de geração de emprego formal produz pressões inflacionárias que impedem o país de atingir o centro da meta inflacionária de 3%, com tolerância de 1,50 ponto percentual, chegando a 4,5% no ano.
Provavelmente, é o mercado de trabalho mais exuberante das últimas três décadas.
— Gabriel Galípolo, presidente do BC
Segundo ele, “é menos um crescimento de gente que está chegando no mercado de trabalho por questão de crescimento demográfico e mais de gente que voltou para a força de trabalho. E isso tem impulsionado esse crescimento”.
“O Banco Central vê com bons olhos a gente ter tido um mercado dinâmico e ter crescido, mas a questão é: pra gente conseguir continuar crescendo sem ter uma pressão inflacionária, é muito importante que esse crescimento se dê também por aumento de produtividade. Uma produtividade que permita a gente ter uma sustentabilidade e duração mais longa desse crescimento”, declarou.
O presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, durante palestra realizada na Fundação Fernando Henrique Cardoso (IFHC), em São Paulo, nesta segunda-feira (06). — Foto: Reprodução/IFHC
Taxa Selic alta
Na palestra, o presidente do Banco Central também afirmou que sabe que a Selic atual de 15% é muito alta e restritiva, mas o órgão corrobora com a visão do Boletim Focus do mercado financeiro, que não vê a inflação fora do centro da meta até 2028.
A gente vislumbra a manutenção da taxa de juros num patamar restritivo por um período bastante prolongado, para produzir essa convergência.
— Galípolo, presidente do BC
De acordo com ele, não há expectativa de que a inflação fique dentro da meta nos próximos anos.
“A gente não vê a inflação na meta em nenhum dos horizontes até 2028, pelas expectativas do Focus. Óbvio que o Banco Central tem suas próprias projeções, há uma cultura e institucionalidade sobre como a gente incorpora essas sugestões [do mercado] dentro das nossas projeções, mas isso é indicativo bastante incômodo pra gente”, completou.
O presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, durante palestra realizada na Fundação Fernando Henrique Cardoso (IFHC), em São Paulo, nesta segunda-feira (06). — Foto: Reprodução/IFHC
Isso se deveu, segundo ele, a um mercado que chegou a ter inflação de alimentos de 16,6% nos itens de alimentação que formam o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do país.
“Lá em abril, a gente tinha 57% dos itens que compõe o IPCA superior ao dobro da meta de inflação. A gente tinha 70% superior à banda superior do teto e a gente tinha 78% acima da meta. Então, fica difícil a gente dizer que era uma inflação pontual”, explicou.
Ele afirmou que, se olharmos para o núcleo de alimentos, “chegamos a ter uma inflação de alimentos de 16,6% em abril” e “estamos agora em 3,9%”.
“A distância que a gente tem entre o IPCA e a meta – IPCA de 5,1% – é bastante longe da meta ainda. A meta é 3%. A gente persegue a meta de 3%, estamos em 5,1% que é bastante superior à banda superior da meta [4,5%]”, completou.
Mais uma vez, ele justificou a elevação das taxas de juros por conta das pressões inflacionárias.
“A gente fez uma elevação de praticamente 450 pontos base na taxa de juros. Ela coloca a taxa de juros num patamar restritivo com alguma segurança. A gente sabe que é uma taxa de juros de 15% elevada, mas percebam que a situação que a gente chegou em abril – e o Banco Central começa seu movimento antes – a gente já percebe esse aquecimento e antecipadamente faz a elevação da taxa de juros”, afirmou.
O presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, durante palestra realizada na Fundação Fernando Henrique Cardoso (IFHC), em São Paulo, nesta segunda-feira (06). — Foto: Reprodução/IFHC
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