Índice
Os termos do consenso ainda precisam da aprovação oficial dos presidentes Trump e Xi Jinping. Enquanto isso, economistas, empresários e investidores do mundo inteiro seguem atentos aos próximos passos da guerra tarifária e seus impactos para EUA, China e o resto do planeta.
- 💪 Mas, nessa queda de braços, qual economia é mais forte?
- 👍👎 E quem sai vencedor ou perdedor da guerra comercial?
Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper, explica que essa matemática não é tão simples assim. Apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA ter sido 60% superior ao da China em 2024, indicadores evidenciam características e desafios distintos para os dois países.
Ao mesmo tempo, não há um vencedor na guerra comercial: o cenário, neste caso, é prejudicial para ambos, diz ele.
Compare, nesta reportagem, a economia dos dois países com base nos indicadores abaixo (clique para navegar pelo conteúdo):
📊 PIB em valores correntes
EUA x China: PIB em valores correntes — Foto: Arte/g1
- O PIB dos EUA foi de US$ 29,2 trilhões em 2024. Já o da China alcançou US$ 18,3 trilhões.
- A economia norte-americana foi 60% maior do que a chinesa no ano.
- Do lado dos EUA, os principais motores econômicos são consumo e investimentos.
- Para os chineses, os destaques são exportação e investimentos.
🇺🇸 A economia norte-americana é considerada mais “balanceada”, por não ser totalmente voltada a investimentos, explica o professor Dumas. Além disso, tem maior foco em consumo do que em exportação, diante de um mercado interno aquecido.
🇨🇳 Enquanto isso, a economia da China é mais direcionada a investimentos e exportações. Um dos principais fatores é o baixo percentual de consumo interno. Mas isso não significa que o chinês consome pouco: ele “produz demais, ‘ao quadrado'”, explica o professor.
- O PIB da China avançou 5% em 2024, enquanto o dos EUA avançou 2,8%.
- Na média dos últimos cinco anos, a economia chinesa avançou 4,7%. Já a norte-americana, 2,4%.
Dumas explica que a solidez do crescimento econômico chinês também é explicado pelo regime ditatorial do país. Ao adotar um “capitalismo de Estado”, o governo não precisa de fôlego político para implementar suas medidas.
Dessa forma, adota ações diretas para garantir o crescimento e, assim, evitar tensões sociais e desemprego, que poderiam ameaçar a estabilidade política do regime, diz o professor. Além disso, faz planejamentos de longo prazo.
“Para continuar crescendo, o país começou a aumentar a produção de bens industriais, incluindo baterias, painéis solares e carros elétricos. Por isso, nós vemos uma inundação de carros elétricos chineses”, exemplifica.
- Quando o PIB é analisado com base na Paridade do Poder de Compra (PPP, na sigla em inglês), a China detém uma participação global superior à dos EUA. Em 2024, o país asiático respondeu por 19,45% do PIB mundial, enquanto os norte-americanos representaram 14,88%.
- A metodologia PPP ajusta o PIB levando em conta o custo de vida e as variações de preços entre os países. O critério permite comparar o poder de compra real das populações. Assim, é possível avaliar quanto se pode adquirir com o mesmo valor em diferentes partes do mundo.
👷🏾 PIB per capita
EUA x China: PIB per capita — Foto: Arte/g1
- O PIB per capita dos EUA foi de US$ 85,8 mil em 2024. O da China, de US$ 27,1 mil.
- Esse indicador representa o valor médio dos bens e serviços produzidos por habitante em um país.
A forte diferença histórica entre os países reflete, principalmente, a matemática populacional. Como a China tem 1,4 bilhão de habitantes, o PIB total é dividido por uma população muito maior, o que naturalmente leva o PIB per capita a um patamar muito mais baixo em comparação com os EUA.
Dumas, do Insper, diz também que os EUA têm crescido muito mais por “inspiração” (produtividade e qualidade do trabalho). Já a China, por “transpiração” (maior quantidade de trabalho e mão de obra).
Ou seja, o nível de produtividade norte-americano é maior, embora a massa trabalhadora chinesa seja superior. “Agora, a China está mudando, e sabe que precisa crescer via ‘inspiração’, via produtividade”, acrescenta.
👥 População
EUA x China: população — Foto: Arte/g1
- A população dos EUA era de 340,1 milhões de pessoas em 2024. Na China, de 1,408 bilhão.
- Isso significa que a população chinesa é 314% maior.
- O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta caminhos diferentes para os dois países: a população dos EUA deve subir para 352,6 milhões até 2030, e a da China, cair para 1,387 bilhão.
Diante do crescimento acelerado da população, a China implementou, em 1979, a política do filho único. Nela, o governo deixou de garantir assistência social para o segundo e terceiro filhos, com o intuito de desestimular a natalidade.
Essa política mudou recentemente, nos anos 2010, explica o professor Dumas, do Insper. Desde então, é permitido ter até três filhos com acesso a benefícios do governo. A mudança ocorreu diante do envelhecimento da população e necessidade de mão de obra.
Os EUA, por outro lado, não enfrentam o mesmo desafio populacional. Apesar de existir preocupação com a sustentabilidade da Previdência, esse problema é muito mais latente na China.
👩🏭 Taxa de desemprego
EUA x China: taxa de desemprego — Foto: Arte/g1
- A taxa de desemprego dos EUA ficou em 4% em 2024, enquanto a da China encerrou em 5,1%.
- O FMI prevê leve queda na taxa dos EUA e manutenção na da China.
O professor Roberto Dumas, do Insper, explica que, embora as taxas pareçam semelhantes, o governo chinês considera apenas a população urbana em sua contagem. Ou seja, ao excluir os moradores das áreas rurais, a taxa de desemprego no país tende a ser muito maior do que indicam os dados oficiais.
Além disso, o governo adota um forte incentivo para manter o nível de emprego elevado. Essa postura está ligada ao regime político e ao chamado “capitalismo de Estado”. “O país precisa continuar crescendo. Caso contrário, pode haver tensões sociais”, afirma.
Nos EUA, o cenário atual é de pleno emprego, com vagas mais qualificadas e estáveis. Assim, em comparação com a China, os empregos representam condições mais vantajosas, com redes de proteção social, assistência médica e Previdência mais amplas.
Por outro lado, a menor intervenção estatal nos EUA tende a deixar a taxa mais suscetível a oscilações.
📈 Inflação
EUA x China: inflação — Foto: Arte/g1
- A inflação nos EUA ficou em 3% em 2024. Na China, a taxa foi de 0,2%.
- O FMI projeta que, até 2030, os dois países chegarão a um índice de preços próximo de 2%.
O receio dos chineses de gastar, diz o professor, tem relação também com a baixa cobertura assistencial. Assim, eles optam por poupar, reduzindo a demanda e, consequentemente, os preços. Esse movimento eleva os temores de um cenário de deflação e desaceleração da atividade.
Balança comercial EUA x China
EUA x China: balança comercial — Foto: Arte/g1
- Os EUA exportaram US$ 144,5 bilhões em bens para a China em 2024.
- A China exportou US$ 439,7 bilhões para os EUA no ano.
- Com isso, o saldo da balança entre os dois países foi de déficit de US$ 295,2 bilhões para os norte-americanos.
Um dos objetivos de Donald Trump com as tarifas (mesmo que a eficácia seja questionada por economistas) é justamente reduzir o déficit comercial, especialmente com países com os quais os EUA têm maior desequilíbrio, como a China.
De modo geral, os norte-americanos gastam mais com importações do que arrecadam com importações.
Já para a China, o cenário é o contrário: o gigante asiático mais vende para outros países do que compra. E esse resultado tem relação direta com os dados econômicos já vistos nesta reportagem.
“Como o consumo interno é proporcionalmente baixo e o investimento e a produção são muito elevados, os chineses têm que vender o excedente para o exterior”, sintetiza Dumas, do Insper, explicando que nos EUA o cenário é exatamente o contrário.
Segundo ele, portanto, as tarifas de Trump são ineficazes para resolver o problema da balança comercial norte-americana. Além disso, não há vencedor na guerra comercial. Como “você precisa de dois para dançar”, a escalada de embates pode representar “um tiro no pé”, finaliza o professor.
Veja um resumo dos dados no infográfico abaixo:
EUA x China: raio-x das duas maiores economias do planeta — Foto: Arte/g1