#É FAKE que ator teve síndrome rara dois dias depois de comer carne de frango malpassada

#É FAKE que ator teve síndrome rara dois dias depois de comer carne de frango malpassada


Ao Fato ou Fake, Cody Hively confirmou que ficou paralisado por causa da Guillain-Barré em 2022, mas negou ter consumido alimento nessas condições às vésperas do diagnóstico. Médicos descartaram que essa tenha sido a causa e citaram Covid-19. Influenciador norte-americano não desenvolveu síndrome por conta do consumo de frango
Reprodução
Circula nas redes sociais um vídeo dizendo que um ator americano teve síndrome de Guillain-Barré (doença neurológica rara e grave que pode causar paralisia) dois dias após ter comido carne de frango malpassada. É #FAKE.
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🛑 O que diz a publicação?
Publicado em 18 de maio de 2025 no Instagram – três dias após o primeiro caso da história de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil –, o vídeo passou de 50 mil curtidas e tem o seguinte título: “Alerta. Ele comeu só um frango e não conseguiu mais se mexer”.
O registro conta a história do ator americano Cody Hively, que em 2022, aos 26 anos, desenvolveu a síndrome de Guillain-Barré (GBS). A doença é uma condição neurológica rara e grave, na qual o sistema imunológico do corpo ataca o sistema nervoso periférico. Isso resulta em uma inflamação dos nervos, levando à fraqueza muscular, formigamento, dormência e, em casos mais graves, paralisia.
A narração do vídeo diz, equivocadamente, o seguinte: “À noite, [Hively] resolveu jantar um frango malpassado. Dois dias depois, ele começou a sentir um formigamento estranho nas mãos. Só que o quadro evoluiu, até ele parar de respirar e precisar ser entubado. […] Uma de suas causas [da síndrome] é a bactéria Campylobacter ssp, que está presente em mais de 50% dos frangos do Brasil”.
⚠️ Por que é falso?
O Fato ou Fake enviou uma mensagem a Cody Hively, pelo Instagram, para saber se a história do vídeo é real. Resposta: “Essa é uma informação falsa. Não comi frango malpassado antes de ter a síndrome. E os médicos me disseram que não tinha a ver com o consumo de nenhum tipo de carne. Com base no momento em que os sintomas [da Guillain-Barré] começaram, os médicos disseram que, muito provavelmente, foi a Covid-19 [que desencadeou o quadro]”. O ator havia recebido diagnóstico positivo para coronavírus duas semanas antes.
Por quase um mês, o ator precisou de auxílio de respiradores mecânicos. Não conseguia falar, engolir e precisava da ajuda de enfermeiras para lubrificar os olhos. O quadro só foi revertido depois de um tratamento à base de imunossupressores.
O Fato ou Fake também consultou os cientistas Uelinton Pinto, Isaias Garcia e Emília França Lima, da Universidade de São Paulo (USP). Eles contestaram a informação de que o ator teria desenvolvido a síndrome apenas dois dias após comer de frango contaminada com a bactéria.
“A gastroenterite [inflamação no estômago], em si, pode acontecer entre 1 e 11 dias após o consumo do alimento contaminado. A síndrome de Guillain-Barré demora mais para acontecer – provavelmente semanas após a infecção”, explicaram.
Os pesquisadores afirmaram ainda que a síndrome até pode ser desencadeada por um quadro de inflamação estomacal causada pela Campylobacter spp, mas dizem que isso é pouco comum:
“A relação já foi observada, mas é um evento raro e pouco esclarecido. Existem outras síndromes que podem se desenvolver após uma gastroenterite com Campylobacter, como a síndrome do intestino irritável, doença do intestino inflamado e sepse, entre outras”.
🦠 Campylobacter spp e o frango brasileiro
Especialista em sanidade aviária da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Clarissa Silveira Luiz Vaz afirma:
“Não confirmamos a informação de que mais de 50% das amostras de carne de frango do Brasil têm Campylobacter. A informação citada, extraída de uma publicação, deriva de um estudo realizado sobre um determinado número de amostras de carne, que pode não ser representativo no Brasil ou da região e nem do momento atual”.
A pesquisadora explica que a mera presença da bactéria na carne de frango não significa que o alimento represente um risco. Isso porque é preciso haver uma concentração mínima de Campylobacter, capaz de colonizar o intestino humano e causar a doença.
“Mundialmente, aceita-se um limite tolerável de Campylobacter em carne de aves, dentro do qual o alimento é seguro para o consumo, reforçando-se as orientações do rótulo para o cozimento correto, que atende à norma da [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] Anvisa. Muitos estudos detectam Campylobacter no alimento, porém em concentração abaixo daquela que é capaz de causar a infecção humana.”
Ela complementa que a carne de frango consumida o Brasil é a mesma exportada para outros países. Por isso, ambos estão sujeitos ao mesmo controle de qualidade: “O Brasil é o maior exportador do produto, e as rígidas normas de controle de qualidade para garantir sua segurança que são exigidas por outros países são as mesmas que se aplicam no produto disponível para o mercado interno”.
Por fim, esclarece que a Campylobacter spp pode ser encontrada em bovinos, suínos e ovinos e até em animais de estimação. Na grande maioria dos casos, a contaminação pela bactéria provocará sintomas que não exigirão a internação do paciente, como diarreia, dor abdominal e febre.
🍗 Recomendações sobre o consumo de frango
Os especialistas da Embrapa e da USP lembram que os cuidados para evitar a contaminação por Campylobacter spp. são os mesmos para evitar a Salmonella. Veja:
não lavar o frango na pia da cozinha;
cozinhar bem a carne de frango;
evitar contato da carne crua com produtos prontos para o consumo (contaminação cruzada);
higienizar bem as mãos e utensílios que tiveram contato com a carne crua;
e acondicionar carne de frango em embalagem devidamente vedada na geladeira para evitar gotejamento e contaminação da geladeira. 
📌 Em que contexto circula a fake?
Em 15 de maio de 2025, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) identificou um foco de gripe aviária H5N1 em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. A detecção ocorreu no município de Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Depois disso, a China, a União Europeia e a Argentina interromperam as importações de frango nacional.
Na época, o Mapa disse que não existe risco no consumo da carne ou de ovos. “Não é o consumo humano que está em risco, e sim a contaminação sanitária dos plantéis comerciais”, afirmou o ministro Carlos Fávaro. “Você exportar uma carne contaminada com aquele vírus e ele contaminar os plantéis comerciais.”
Influenciador norte-americano não desenvolveu síndrome por conta do consumo de frango
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