Copom: entenda os efeitos do ‘choque de juros’ no crédito e na vida do consumidor

O Comitê de Política Monetária (Copom) cumpriu a promessa feita em sua última reunião de 2024 e voltou a elevar a Selic em 1 ponto percentual (p.p.) nesta quarta-feira (29), para 13,25% ao ano.

A instituição indicou que a média dos preços deve continuar acima da meta de inflação de 3% neste e nos próximos anos. De acordo com as últimas divulgações do IPCA, a inflação oficial tem sido impulsionada principalmente pelo alto preço dos alimentos e dos combustíveis.

Um elemento extra de incerteza é a chegada de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. Com políticas protecionistas, que também prejudicam a inflação americana, espera-se que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) tenha dificuldade de baixar os juros por lá.

Juros elevados nos EUA aumentam o rendimento das Treasuries, os títulos públicos americanos, atraindo investidores estrangeiros e fortalecendo a moeda americana. Um dólar mais forte prejudica o câmbio e pressiona a inflação no Brasil.

Entenda abaixo os efeitos dessa encruzilhada no bolso dos brasileiros.

Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto concederam entrevista coletiva juntos nesta quinta (19) — Foto: Adriano Machado/Reuters

Por que os juros subiram tanto?

Um dos principais pontos levantados tanto pelo BC brasileiro quanto pelo Fed é a dúvida sobre a continuidade da pressão inflacionária nas economias de ambos os países.

“Há uma série de incertezas olhando à frente. A primeira é a taxa de câmbio, que é uma das variáveis-chave para o comportamento da inflação. E a segunda é o comportamento da atividade econômica”, explica o estrategista-chefe da Warren Rena, Sergio Goldenstein.

Nos EUA, apesar de sinais de desaceleração econômica, ainda há dúvidas sobre a intensidade dos efeitos da agenda protecionista de Trump. Medidas econômicas, como a criação de tarifas para produtos importados e a deportação de estrangeiros, têm caráter inflacionário e devem causar impactos nos preços ao consumidor.

Em seu comunicado, o Fed indicou que seu balanço de riscos está mais equilibrado nos últimos meses, mas a instituição deve ser mais cautelosa com novos cortes de juros até que se tenha mais clareza de que não perderá o controle da inflação.

“O comunicado […] deixou claro que o comitê seguirá firme na missão de levar a inflação ao centro da meta, monitorando indicadores estritamente ligados ao ambiente macroeconômico […] e excluindo qualquer possibilidade de que fatores políticos adentrassem a agenda da instituição”, afirma o economista da CM Capital, Matheus Pizzani, em nota.

Em comunicado divulgado após a decisão, o Copom afirmou que segue “acompanhando com atenção” os desenvolvimentos da política fiscal e seus impactos na política monetária e nos ativos financeiros.

“A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, disse.

Em um contexto em que investimentos seguros estão com boa rentabilidade, o país se torna menos atrativo. Quando esses recursos são direcionados para fora, o real se desvaloriza e se torna mais um peso na inflação.

Ainda segundo o comunicado, o Copom também disse que as expectativas para a inflação apuradas pelo Focus “elevaram-se de forma relevante”, destacando que os riscos de alta dos preços continuam a prevalecer no balanço de riscos.

“O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”, ponderou o colegiado.

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Como os juros afetam o dia a dia do brasileiro?

O principal efeito dos juros na vida do consumidor ocorre no crédito. Primeiro, porque os bancos acompanham a alta da Selic e repassam esse custo aos consumidores, encarecendo empréstimos e financiamentos.

Em segundo lugar, há um menor volume de crédito disponível no mercado. Com as incertezas e sinais de desaceleração da atividade econômica, além da alta das expectativas de inflação, os bancos ficam menos propensos a emprestar.

Esse cenário também afeta aqueles que já têm créditos contratados com juros pós-fixados, o que pode diminuir a capacidade de pagamento e aumentar a inadimplência.

Por fim, a alta dos juros também impacta o poder de compra das famílias, que, com menos recursos disponíveis, limitam seus gastos às contas básicas da casa e postergam a compra de bens.

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O que precisa acontecer para os juros voltarem a cair?

Segundo os especialistas consultados pelo g1, as expectativas de inflação precisam parar de piorar e, posteriormente, melhorar para que o Banco Central não precise prolongar o ciclo de altas da Selic.

“Apesar de ninguém vislumbrar ainda uma melhora tão cedo das expectativas de inflação, interromper a piora já vai ser um grande alento para o BC”, diz o economista do ASA, Leonardo Costa.

Além disso, a inflação precisa perder força nos próximos meses, mesmo que a atividade econômica tenha que desacelerar de forma significativa. “Provavelmente já devemos começar a ver alguma desaceleração dos indicadores, mas é preciso que venham mais fracos do que isso”, completa Costa.

Por fim, os especialistas destacam a necessidade de maior clareza sobre os impactos do governo Trump e das incertezas domésticas na taxa de câmbio.

“Para que a política monetária funcione, é importante que as políticas fiscal e parafiscal não atrapalhem”, afirma Goldenstein, reiterando que o BC não conseguirá, sozinho, reverter o cenário atual de pressão nos juros.

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