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Com desconto, além de melhorias na mecânica e no design, o modelo busca reverter a queda nas vendas dos últimos anos. Por seis anos o carro mais vendido do Brasil, hoje ocupa um amargo sexto lugar entre os mais vendidos, fora o fardo da correia banhada a óleo — que foi reformada para que a fama ruim passasse.
O Onix 2026 recebeu nova dianteira, trocou o painel de instrumentos analógico por um digital e aumentou o tamanho da central multimídia. O objetivo é reconquistar antigos clientes e atrair consumidores que hoje preferem concorrentes mais tecnológicos, como o Volkswagen Polo e o Peugeot 208.
Há outro desafio: os SUVs já respondem por mais da metade das vendas de carros zero no país. Com preço na faixa dos R$ 100 mil, o Onix concorre diretamente com boas opções de SUVs de entrada.
O g1 testou o novo Onix na versão hatch pelo interior de São Paulo, percorrendo trechos de estrada, áreas urbanas e até vias de terra, para avaliar os pontos fortes e fracos do modelo. Será possível voltar aos dias de glória?
Onix dirige bem, mas acelera com parcimônia
Chevrolet Onix 2026 — Foto: divulgação/GM
Quem já dirigiu um Onix lançado nos últimos quatro anos dificilmente notará mudanças. O modelo preserva o conforto característico do compacto.
O volante tem resposta leve, graças ao eficiente sistema de assistência elétrica. Curvas e mudanças de faixa mais rápidas foram feitas com segurança, sem transmitir instabilidade ou sensação de perda de controle.
O motor perdeu pouco da potência, mas é praticamente o mesmo: passou de 121 para 115 cv, mantendo o torque em torno de 16 kgfm. Segundo a GM, essa redução é consequência da diminuição do IPI prevista no programa Carro Sustentável.
Manter o torque é mais importante do que a potência bruta, pois ele garante a força nas arrancadas. Mas o Onix não chega a ser “esperto” e nota-se um tempo maior para o motor alcançar o desempenho necessário em situações como ultrapassagens.
Ao acelerar com força, o carro leva quase três segundos para responder, mesmo em linha reta. É preciso elevar o giro do motor antes de qualquer tentativa de ultrapassagem, como ao passar por um caminhão.
Com o tempo, o motorista se adapta. O fato de o motor não ter sido alterado é que proprietários de versões anteriores já conhecem seu desempenho e sabem o que esperar.
Outro ponto mudou: o Onix continua usando a polêmica correia dentada banhada a óleo, mas agora com nova formulação para resistir melhor ao contato com lubrificantes que não seguem exatamente as especificações do manual do veículo.
De forma resumida: a partir de 2019, o Onix passou a utilizar uma correia dentada banhada a óleo, o que deixou o motor três cilindros mais silencioso — algo que pudemos comprovar. De fato, o hatch apresenta menos ruído em comparação com modelos concorrentes de mesma configuração.
No entanto, esse tipo de correia exige atenção especial ao óleo do motor, já que é dele que vem a lubrificação necessária para reduzir o ruído. Se o proprietário não seguir as recomendações do manual e utilizar um óleo inadequado, a correia pode se deteriorar precocemente, com fragmentos se acumulando em partes do motor, como o filtro da bomba de vácuo.
Correia dentada banhada a óleo utilizada pelo Onix — Foto: André Fogaça/g1
Como consequência, o sistema de freios perde o suporte da bomba, a turbina se torna menos eficiente e o veículo sofre perda de potência. Com o tempo, esses problemas tendem a se agravar. Para evitar esse cenário, a GM reformulou a correia e afirma que ela está mais resistente ao uso de óleos sem a certificação Dexos — selo emitido pela própria montadora e disponível em diferentes marcas de lubrificantes.
É cedo para saber se a mudança reduzirá as reclamações. As primeiras avaliações sobre o novo componente devem surgir apenas após a primeira troca de óleo, prevista para 10 mil quilômetros ou um ano de uso.
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Chevrolet Onix 2026 — Foto: divulgação/GM
Onix finalmente ganhou mais telas
Por fora, o novo Onix traz poucas mudanças. A grade frontal está mais larga, mas a entrada de ar não ocupa toda a peça. Esse detalhe lembra a ideia de ponteira de escapamento falsa, comum em modelos com apenas uma saída, mas que buscam um visual mais esportivo.
Um problema externo parece ter sido resolvido, ao menos durante o teste: o para-choque agora apresenta ângulo de ataque 30% maior que o da versão anterior. Em outras palavras, a dianteira está mais alta, o que deve facilitar a passagem por lombadas e valetas.
Em velocidades altas e baixas, o resultado foi positivo: as lombadas não encostaram na parte inferior do para-choque.
Na traseira, o porta-malas mantém 303 litros, suficiente para acomodar bem uma mala grande. Uma outra mala precisaria ser colocada no banco traseiro.
Chevrolet Onix 2026 — Foto: divulgação/GM
Por dentro estão as novidades mais marcantes. O Onix agora tem painel de instrumentos digital, ainda que o display pudesse contar com opções de personalização mais práticas.
Todos os ajustes — como consumo de combustível, conta-giros ou apenas a velocidade — são feitos pela central multimídia. Ela que também aumentou para 11 polegadas, e agora se integra visualmente à mesma moldura do painel de instrumentos.
Vale para as versões mais caras, mas o conjunto é bem mais bonito e transmite a impressão de uma única peça, mais ampla, evitando que a central pareça uma tela separada.
Chevrolet Onix 2026 por dentro
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Chevrolet Onix 2026 — Foto: divulgação/GM
Infelizmente, o Onix hatch ou sedã com motor aspirado — tanto automático quanto manual — mantém os ponteiros analógicos e a central multimídia de 8 polegadas, igual àquela do modelo anterior.
Alguns outros itens fazem falta no pacote do Onix. Não há retrovisor com antiofuscamento automático, e o carregador de celular por indução posiciona o aparelho muito próximo da alavanca do câmbio. Na posição P, os dedos tocam o celular à frente.
Outro ponto negativo é o uso excessivo de plástico rígido, como é de praxe nos carros de entrada. Apesar das texturas variadas, o toque macio aparece apenas no apoio de braço da porta. O material facilita a limpeza, mas transmite uma sensação menos sofisticada.
Onix ou Tracker? Ou outro?
O Onix tenta retomar uma época gloriosa. Em 2019, no auge, foram emplacados mais de 240 mil unidades do modelo, mais que o dobro do segundo colocado. Em 2024, o hatch não conseguiu ultrapassar a barreira dos 100 mil veículos vendidos.
Pois a atualização chegou, mas os desafios são enormes. O principal é que os hatches têm perdido amplo espaço na preferência dos compradores brasileiros.
Em 2025, eles respondem por 53,9% das vendas, enquanto os hatches registraram metade desse volume, com 24,5% dos emplacamentos. Os dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
E, por R$ 100 mil, o consumidor encontra opções interessantes dos SUVs subcompactos de marcas concorrentes.
- Citroën Basalt: a partir de R$ 93.990.
- Fiat Pulse: a partir de R$ 99.990;
- Volkswagen Tera: a partir de R$ 105.890;
A própria GM terá duas ameaças ao Onix em seu portfólio. O próprio Fábio Rua confirmou que a Chevrolet vai entrar na briga dos pequenos SUVs. Não disse quando chega, nem onde será produzido, mas espera-se que venha com preços abaixo do SUV de linha, o Tracker.
Falando nele, a versão avaliada do Onix, a Premier (R$ 129.190), custa mais do que o Tracker com motor turbo (a partir de R$ 119.900).
O utilitário deixa de oferecer alguns itens presentes no compacto testado, como:
- Central multimídia menor, com 8 polegadas;
- Painel digital analógico, mas com tela colorida de 3,5 polegadas
- Ausência de alerta de ponto cego;
- Lanternas em lâmpada halógena;
- Ar-condicionado sem função automática;
- Carregador de celular por indução ausente.
- Porta-malas maior, de 303 para 393 litros;
- Motor mais forte, de 16,8 kgfm para 18,9 kgfm;
- Maior espaço interno;
- Acionamento remoto do motor.
O dilema não é de hoje: quem procura um carro mais equipado e não faz questão de um porta-malas espaçoso encontra uma boa opção no Onix Premier. Mas é tentador economizar R$ 10 mil e optar por mais espaço, um carro mais robusto e da mesma marca.
Se quiser seguir a moda do SUV, o Citroën Basalt tem valor mais baixo (R$ 93.990). E o Fiat Pulse tem um motor mais potente na versão Turbo 200 AT (130 cv), preço mais acessível (R$ 116,9 mil), e uma boa lista de equipamentos.