No documento, o banco estatal informou ter solicitado ao BC a íntegra da decisão para “avaliar seus fundamentos e analisar as alternativas cabíveis”. Também defendeu a aquisição como estratégica.
“O BRB reitera seu posicionamento de que a transação representa uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB, seus clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional”, diz o texto.
O BRB destacou que manterá acionistas e o mercado atualizados sobre possíveis desdobramentos da rescisão.
Em nota, o Banco Master também informou que aguarda ter acesso à íntegra do documento “para avaliar seus fundamentos e examinar as alternativas cabíveis”.
“O banco continua confiante na sua estratégia e na sua operação, que fizeram com que se destacasse num mercado altamente concentrado”, diz a instituição.
Até a última atualização desta reportagem, o Banco Central não havia se manifestado publicamente sobre a decisão.
A reprovação pelo BC foi anunciada após mais de cinco meses de análise, embora a autoridade monetária ainda tivesse quase um ano de prazo para concluir a avaliação da operação.
O acordo entre as partes, anunciado em março, previa que o BRB adquirisse 49% das ações ordinárias, 100% das preferenciais e 58% do capital total do Master — banco que preocupou o mercado por sua estratégia de captação arriscada. (leia mais abaixo)
O BRB é uma sociedade de economia mista, de capital aberto, controlada majoritariamente pelo governo do Distrito Federal (71,92%). A instituição atua em todo o DF e também está presente no Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Bahia e Paraíba.
Pressão sobre o BC
A decisão do BC ocorreu um dia depois de líderes partidários na Câmara dos Deputados apresentarem um pedido de urgência para um projeto de lei que permitiria ao Legislativo demitir diretores da autoridade monetária. O requerimento foi feito pelo deputado Claudio Cajado (PP-BA).
“[Vejo] com preocupação, porque não foi conversado conosco, com o governo de uma maneira geral. E eu imagino que nem com o Banco Central […] Eu realmente não vejo nenhuma razão para esse projeto, não vejo nenhum motivo para ele caminhar”, disse.
Haddad defendeu que o Banco Central passe a ter autonomia administrativa, mas que não passe a ser uma pessoa jurídica de direito privado, conforme consta na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65, de 2023.
“Penso que o BC tem de ter orçamento próprio para fazer frente a despesas que hoje ele não tem orçamento para fazer, dentre as quais o fortalecimento da parte regulatória”, acrescentou.
A estratégia arriscada do Banco Master
O Banco Master cresceu nos últimos anos, mas com uma estratégia de captação de recursos considerada arriscada por analistas do mercado.
O banco oferecia CDBs (Certificado de Depósito Bancário) com taxas muito acima das praticadas por outras instituições, atraindo investidores com base na proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
- 🔎 O FGC, que protege até R$ 250 mil por investidor, oferece garantia em caso de falência de um banco associado. O fundo é formado pelas próprias instituições financeiras — ou seja, trata-se de um fundo privado que assegura os recursos dos investidores.
Portanto, o FGC torna o investimento mais seguro para quem aplica dinheiro em uma instituição associada, enquanto a própria instituição consegue atrair mais recursos graças a esse mecanismo.
Na ocasião, o Banco Central informou à TV Globo que o objetivo das novas regras é “reduzir risco moral ocasionado por instituições que adotam estratégias de captação excessivamente alavancadas e baseadas em captações asseguradas”.
A norma entra em vigor em 1º de junho de 2026, com um período de adaptação.
O modelo de negócio do Master, que inclui ainda investimentos em ativos de baixa liquidez, como precatórios e participações em empresas, gerou dúvidas no mercado sobre a saúde financeira do banco.
Agências do Banco Master e do Banco de Brasília. — Foto: Banco Master/Divulgação e Paulo H. Carvalho/Agência Brasília