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A nota reflete um equilíbrio entre a força da economia brasileira e os desafios fiscais persistentes. Segundo a avaliação da agência, as classificações do Brasil são sustentadas pela:
- Economia grande e diversificada;
- Finanças externas sólidas e reservas internacionais robustas;
- Mercados domésticos profundos, com baixa dependência de dívida em moeda estrangeira.
O texto também aponta que “as classificações são limitadas pelo alto e crescente endividamento do governo em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), rigidez orçamentária, baixos indicadores de governança e um crescimento potencial relativamente baixo”.
“As incertezas fiscais continuam sendo uma fonte de risco macroeconômico mais amplo, tendo se manifestado na recente volatilidade do mercado, e as perspectivas de reformas estruturais para enfrentar os desequilíbrios subjacentes provavelmente só ficarão mais claras após as eleições de 2026”, completa o texto da Fitch Ratings.
Apesar da redução no déficit primário em 2024 (0,4% do PIB), a queda foi influenciada por receitas pontuais e não representa uma melhora estrutural. A resistência do Congresso a novos impostos, a frustração com a arrecadação e o aumento de gastos têm gerado incertezas no mercado.
A Fitch projeta que o déficit total do governo suba para 8% do PIB em 2025, pressionado pelos juros altos e pelo fim dos estímulos fiscais.
A dívida pública brasileira alcançou 76,5% do PIB em 2024 e deve continuar subindo, segundo a Fitch. O cenário eleitoral de 2026 pode dificultar medidas de contenção de gastos e favorecer políticas populistas, como subsídios e aumento de benefícios sociais.
Mesmo assim, a agência destacou que não espera mudanças drásticas na condução da política econômica, embora o ambiente político possa influenciar a confiança do mercado e o avanço de reformas.
A classificação ainda indica um “grau especulativo” — o que, segundo as agências de risco, aponta que o Brasil está menos vulnerável ao risco no curto prazo, mas segue enfrentando incertezas em relação a condições financeiras e econômicas adversas.
Em outras palavras, o Brasil não tem o chamado “selo de bom pagador”, classificação que sinaliza menor risco de calote para quem investe em títulos do Tesouro Nacional. (saiba mais sobre as notas de crédito abaixo)
Veja as notas de crédito do Brasil (ratings) em todas as agências de risco — Foto: Kayan Albertin/Arte g1
Como funcionam as notas de crédito
As agências têm uma longa escala de classificação, com mais de 20 notas. Quanto mais alta a posição, mais eficiente, confiável e robusta é a economia — e menor o seu risco.
Há ainda uma divisão em duas “prateleiras” principais:
- Grau de investimento;
- Grau especulativo.
O grau de investimento é um selo de qualidade que assegura aos investidores um menor risco de calotes. A partir da nota de crédito que determinado país recebeu, os investidores podem avaliar se a possibilidade de ganhos (por exemplo, com juros) compensa o risco de perder o capital investido com a instabilidade econômica local.
O grau especulativo surge quando o país perde o selo de bom pagador, porque as agências deixam de dar sua chancela de segurança para um investimento. Nessa situação, é comum que o país perca também possibilidades de investimento.
Alguns fundos de pensão internacionais, de países da Europa ou Estados Unidos, por exemplo, seguem a regra de que só se pode investir em títulos de países que estejam classificados com grau de investimento por agências internacionais.
“Ter esse selo, portanto, facilita a atração de capital. E à medida que o país recebe mais recursos, ele amplia sua liquidez e sua capacidade de realizar investimentos”, explica Alex Nery, professor da FIA Business School.
Na história, o único período em que o país obteve selo de bom pagador foi entre os anos 2008 e 2015. A entrada ou saída do grau de investimento é definida pelas agências de risco a partir de fatores como o nível das reservas internacionais, cenário fiscal e estabilidade política.
De acordo com analistas de mercado, historicamente, um país que perde o selo de bom pagador costuma levar de 5 a 10 anos para recuperar. O Brasil já está a nove anos no grau especulativo.
A trajetória da nota do Brasil
- ▶️ A chegada ao grau de investimento
As agências internacionais Fitch Ratings e S&P deram grau de investimento ao Brasil pela primeira vez em 2008, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já a Moody’s concedeu o selo em 2009. Com as alterações, o país passou naquela época a ser reconhecido como um destino mais seguro para investimentos estrangeiros.
“Um mercado de consumo maior, com crescimento do mercado de capitais e da formalização dão sustentação às intenções de investimento”, afirmou, na época, a S&P.
“[Além disso, o Brasil] fortificou a estabilidade macroeconômica e aumentou as perspectivas de crescimento a médio prazo”, informou a agência em nota oficial.
Veja o histórico das notas na imagem abaixo:
Histórico das notas de crédito do Brasil — Foto: Kayan Albertin/Arte g1
Em 2011, o país subiu mais um degrau na classificação de bom pagador pelas três agências. Já era o início do governo de Dilma Rousseff (PT).
Já a Moody’s seguiu a mesma linha e enfatizou os ajustes fiscais promovidos pelo país. A agência apontou que o governo vinha se mostrando disposto a reverter políticas expansionistas e a adotar uma posição mais conservadora e consistente com um crescimento sustentável.
A expectativa da agência também era de queda na relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, em conformidade com as metas fiscais do país na época.
- ▶️ Perda do grau de investimento
A S&P foi primeira a retirar o selo de bom pagador do Brasil, em setembro de 2015. A ação foi seguida pelas agências Fitch, no mesmo ano, e pela Moody’s, em 2016. Foram dois anos de intensa crise econômica, depois do fim do manejo de preços no governo de Dilma.
A S&P seguiu a mesma linha e destacou, na época, que o país passava por uma deterioração nas contas públicas, enquanto enfrentava desafios políticos.
Aquele ano foi marcado, entre outros pontos, por discussões em torno de um ajuste fiscal e de uma reforma política.
O que esperar pela frente
O Brasil está a um degrau de obter selo de bom pagador na agência Moody’s. Para Alex Nery, no entanto, algumas barreiras têm dificultado a chegada da nota brasileira em grau de investimento. Uma delas é o fato de o país enfrentar um histórico político recente mais turbulento do que em meados de 2008.
“Temos também fatores como a pandemia de Covid-19 e todo um endividamento que foi surgindo a partir dos eventos recentes. Isso não quer dizer que o Brasil não vai conseguir grau de investimento, mas ainda é preciso fazer a lição de casa e colocar as coisas em ordem”, diz o professor da FIA.
Após a empolgação do mercado com as aprovações das reformas tributária e da Previdência — que beneficiaram a nota brasileira nas últimas decisões —, o desafio, agora, está na execução e na condução dessas e outras medidas já aprovadas no país.
Alex Nery, da FIA, também inclui na conta o arcabouço fiscal, que ficará no radar das agências daqui para frente. “O desenho do arcabouço é interessante, mas, se mudar muito a meta fiscal, ele perde credibilidade. Esse é outro fator de atenção para as agências de risco”, conclui o especialista.